Ataque furioso do demónio
Quando esta
manhãzinha despertava dum sono leve e passageiro, eram de tal forma as trevas
que eu sentia na minha alma que me parecia ver com os olhos do meu rosto, à
minha frente, uma grande muralha negra; assustei-me, o meu corpo estremeceu.
Não era nada, os olhos do rosto nada viam, os da alma, esses viam e
aterravam-se. A pouco e pouco, fui-me envolvendo mais e mais nessas trevas
assustadoras. Preparei-me para receber Jesus em meu coração. Entrou para a
escuridão e na escuridão ficou. Pobre Jesus, onde baixou Ele! Sem luz, mas
muito unidinha a Ele, fui percorrendo o caminho do meu calvário. Caía e sobre
mim caía a cruz. Era arrastada e arrastada comigo era ela também. Ao cair sobre
a terra, os espinhos cravavam-se, penetravam cada vez mais fundo. Que dores
horríveis! Ainda as sinto. Da minha boca sentia como se saíssem golfadas de
sangue, vindas do coração, resultado das grandes quedas, de bater com o peito
em pedras. E tudo isto se passou sem luz, sempre a cada passo a ser envolvida
num rolo de trevas. Eu pensava que não podiam ser mais aterradoras, mas vejo
que dia a dia mais me assustam. Ó meu Deus, tudo por Vós! Veio o maldito com as
suas artes. Empregou todos os meios maliciosos para me obrigar a pecar. Chamei
por Jesus.
Que grande luta!
Estava sem vida, banhada em suor. Fiquei a dizer muitas vezes:
— Que grande
martírio, meu Jesus, que grande martírio! Eu não quero pecar, sou a Vossa
vítima.
Disse-me o meu
Jesus:
— É grande o
martírio, ó minha filha, eu bem o sei, é martírio de amor, é martírio de
reparação. Só podia receber da tua alma bela e pura, só podia do teu corpo
virginal receber esta consolação, esta reparação. Custa-te muito? Só assim é
que me dás tudo. Coragem! Tu não me ofendes.
— Lanço-me
nos Vossos divino braços, ó Jesus, neles quero estar sempre, mesmo nas lutas
com Satanás. Sozinha tenho medo, aí estou livre de Vos ofender.
Fiquei
desfalecida e continuei nos sofrimentos do calvário. Todo o corpo era sangue.
Sentia uma sede abrasadora e o maior dos abandonos. Ouvi do meu coração sair
este brado: “tenho sede, tenho sede”. Compreendi que era Jesus e lembrei-me que
Ele tinha sede das almas. No mesmo instante, senti passar nos meus lábios uma
esponja, uma e outra vez. A sede dos lábios ficou na mesma e a do coração
aumentou. O brado continuava:
— Não é a
sede dos lábios que quero saciada, mas sim a sede do coração, a sede das almas.
Nesta sede e
neste abandono fiquei por muito tempo como se estivesse com os olhos fitos no
céu e o corpo esmagado com o peso de toda a humanidade. E Jesus não vinha, demorou
tanto! Esperei, esperei. Veio então e disse-me:
— O rei
habita no seu palácio com a sua grandeza, poder e amor, mesmo que a rainha não
o veja, não o sinta. Custa muito, minha filha, o esposo separar-se da sua
esposa. Mas a minha separação não é real, fico escondido em ti. Fico a governar
a nação da tua alma pelos lábios de quem escolhi para te amparar e dirigir.
Todos os que te amparam, todos os que te guiam, fui eu que os trouxe a teu
lado. Coragem, filhinha. Vem cá, vem ao meu coração, vem receber vida; estás
desfalecida, necessitas dela para ires à conquista das almas. Vem, vem, ó
conquistadora da humanidade, vem receber o sangue do meu divino Coração;
necessitas da vida divina, porque momento a momento perdes a vida humana. Vives
milagrosamente, vives do meu divino sangue; é ele o meu alimento.
Jesus uniu o Seu
divino Coração ao meu; sentia-o e via-o cheio de raios de amor e ao lado uma
grande chaga. Principiou a deitar do d‘Ele para o meu o Seu divino sangue e o
meu, tão pequenino, principiou a dilatar-se, parecia não me caber no peito.
Jesus uniu os Seus divino lábios aos meus para me acariciar e continuou:
— Estão os
anjos, minha filha, a verem este grande milagre, as minhas maravilhas em ti.
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