terça-feira, abril 27, 2021

CHAMEI POR JESUS

Ataque furioso do demónio

Quando esta manhãzinha despertava dum sono leve e passageiro, eram de tal forma as trevas que eu sentia na minha alma que me parecia ver com os olhos do meu rosto, à minha frente, uma grande muralha negra; assustei-me, o meu corpo estremeceu. Não era nada, os olhos do rosto nada viam, os da alma, esses viam e aterravam-se. A pouco e pouco, fui-me envolvendo mais e mais nessas trevas assustadoras. Preparei-me para receber Jesus em meu coração. Entrou para a escuridão e na escuridão ficou. Pobre Jesus, onde baixou Ele! Sem luz, mas muito unidinha a Ele, fui percorrendo o caminho do meu calvário. Caía e sobre mim caía a cruz. Era arrastada e arrastada comigo era ela também. Ao cair sobre a terra, os espinhos cravavam-se, penetravam cada vez mais fundo. Que dores horríveis! Ainda as sinto. Da minha boca sentia como se saíssem golfadas de sangue, vindas do coração, resultado das grandes quedas, de bater com o peito em pedras. E tudo isto se passou sem luz, sempre a cada passo a ser envolvida num rolo de trevas. Eu pensava que não podiam ser mais aterradoras, mas vejo que dia a dia mais me assustam. Ó meu Deus, tudo por Vós! Veio o maldito com as suas artes. Empregou todos os meios maliciosos para me obrigar a pecar. Chamei por Jesus.


— Não chamas por Ele, é por mim que tu chamas, é a mim que tu queres. Da terra és por todos abandonada, nenhuns querem pecar contigo, têm nojo de ti. Olha em que estado tu estás! Eu peco, mas peco com nojo para tu ofenderes o inimigo que eu odeio.

Que grande luta! Estava sem vida, banhada em suor. Fiquei a dizer muitas vezes:

— Que grande martírio, meu Jesus, que grande martírio! Eu não quero pecar, sou a Vossa vítima.

Disse-me o meu Jesus:

— É grande o martírio, ó minha filha, eu bem o sei, é martírio de amor, é martírio de reparação. Só podia receber da tua alma bela e pura, só podia do teu corpo virginal receber esta consolação, esta reparação. Custa-te muito? Só assim é que me dás tudo. Coragem! Tu não me ofendes.

— Lanço-me nos Vossos divino braços, ó Jesus, neles quero estar sempre, mesmo nas lutas com Satanás. Sozinha tenho medo, aí estou livre de Vos ofender.

Fiquei desfalecida e continuei nos sofrimentos do calvário. Todo o corpo era sangue. Sentia uma sede abrasadora e o maior dos abandonos. Ouvi do meu coração sair este brado: “tenho sede, tenho sede”. Compreendi que era Jesus e lembrei-me que Ele tinha sede das almas. No mesmo instante, senti passar nos meus lábios uma esponja, uma e outra vez. A sede dos lábios ficou na mesma e a do coração aumentou. O brado continuava:

— Não é a sede dos lábios que quero saciada, mas sim a sede do coração, a sede das almas.

Nesta sede e neste abandono fiquei por muito tempo como se estivesse com os olhos fitos no céu e o corpo esmagado com o peso de toda a humanidade. E Jesus não vinha, demorou tanto! Esperei, esperei. Veio então e disse-me:

— O rei habita no seu palácio com a sua grandeza, poder e amor, mesmo que a rainha não o veja, não o sinta. Custa muito, minha filha, o esposo separar-se da sua esposa. Mas a minha separação não é real, fico escondido em ti. Fico a governar a nação da tua alma pelos lábios de quem escolhi para te amparar e dirigir. Todos os que te amparam, todos os que te guiam, fui eu que os trouxe a teu lado. Coragem, filhinha. Vem cá, vem ao meu coração, vem receber vida; estás desfalecida, necessitas dela para ires à conquista das almas. Vem, vem, ó conquistadora da humanidade, vem receber o sangue do meu divino Coração; necessitas da vida divina, porque momento a momento perdes a vida humana. Vives milagrosamente, vives do meu divino sangue; é ele o meu alimento.

Jesus uniu o Seu divino Coração ao meu; sentia-o e via-o cheio de raios de amor e ao lado uma grande chaga. Principiou a deitar do d‘Ele para o meu o Seu divino sangue e o meu, tão pequenino, principiou a dilatar-se, parecia não me caber no peito. Jesus uniu os Seus divino lábios aos meus para me acariciar e continuou:

— Estão os anjos, minha filha, a verem este grande milagre, as minhas maravilhas em ti.

(Sentimentos da alma: 27 de Abril de 1945 – Sexta-feira)

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