Neste caminho vem ao meu encontro a mulher querida
– Para onde
caminho, Senhor? Que será de mim, meu Jesus?
Passei da dor ao
amor, do calvário, da cruz ao Tabor. Principiei a sentir o amor de Jesus
fortemente no meu peito e no coração e a Sua divina presença em mim; e logo
ouvi a Sua voz, doce e suave:
– Vem o céu
a prestar homenagens ao Rei do céu, à rainha da terra no seu encontro demorado.
Era meu desejo, minha amada, minha pomba querida, que o mundo conhecesse a
forma como me dou à minha esposa, à alma virgem. Queria que o mundo conhecesse
e compreendesse este amor: o amor com que te amo, o amor com que me amas a mim,
o amor às almas, o amor à cruz. Era meu desejo, grande desejo que o mundo
conhecesse a tua vida, vida do amor mais puro, vida de heroicidade, vida de
heroísmos com toda a abundância. A tua vida é um painel riquíssimo onde está
retratada a vida divina, a vida mais completa de Cristo crucificado. Os homens,
os homens, minha filha, opõem barreiras escandalosas a esta vida que eu
desejava fosse conhecida para glória minha e bem das almas.
– Ó meu
Jesus, por eu não ter querer quero o que Vós quereis; se assim não fora, queria
viver escondida, viver como se não vivesse, viver como se nunca tivesse existido, contanto que Vos amasse e as
almas fossem salvas. Mas, se assim o quereis, o remédio está nas Vossas divinas
mãos; fazei que os homens procedam doutra maneira.
– Não, não,
minha amada querida, não é assim.
– Perdoai-me
então, meu Jesus, perdoai-me, se Vos ofendi.
– Sossega,
não me desgostaste. Onde estão as graças que lhes dei? Não se utilizaram delas,
desprezaram-nas, calcaram-nas a seus pés. Utilizaram-se da sua vontade própria,
do seu orgulho, dos seus juízos, das falsas luzes. Que mágoa para o meu divino
coração. Coragem, filhinha, vence a minha divina causa e com ela vencem os que
por ela lutam. Tu és o verdadeiro caminho, estrada de oiro, estrada real,
cercado de um lado e do outro das pedras mais preciosas, das maravilhas do
Senhor. Felizes almas, felizes pecadores que nela entrarem que vão a porto de
salvação. Os teus olhares, os teus carinhos, as tuas ternuras, tudo leva ao
céu. São olhares, ternuras e carinhos atraentes que atraem a ti as almas. Por
ti vêm a mim. Vais agora, minha filha, receber a vida divina, a vida que te
alimenta e dá vida, a vida que dás às almas. Vais receber o meu divino sangue.
Jesus uniu o Seu
divino Coração ao meu assim como o Seu santíssimo rosto e lábios se uniram aos
meus. O meu coração parecia-me estar colado ao de Jesus e do Seu Coração divino
passava para o meu sangue. Sentia o meu a dilatar-se, a dilatar-se, era grande,
muito grande. Sentia também receber vida dos lábios de Jesus para os meus. Ele
cobria-me de carícias e dizia-me:
– Dou-te o
meu sangue, a minha vida por onde eu quero e como quero.
Esta união foi
demorada. Depois de algum tempo, Jesus chamou:
– Vem, minha
Mãe, minha bendita Mãe, dá a tua vida celeste, dá as tuas graças e riquezas a
esta minha filha e esposa e também tua filhinha querida.
Jesus desuniu de
mim o Seu santíssimo rosto e lábios, mas deixou sempre ligado o Seu divino
Coração. Tomou a Mãezinha o lugar de Jesus; uniu o seu santíssimo rosto ao meu,
estreitava-me, cobria-me das suas carícias e bafejava-me com tanta doçura.
Senti que d’Ela recebi muita vida, e dizia-me:
– Minha
filha, esposa do meu Jesus, tabernáculo do meu Jesus, sacrário do meu Jesus,
onde Ele habita sempre, sempre.
E Jesus
dizia-lhe:
– Dá-lhe,
minha Mãe, as riquezas do céu, dá-lhe todo o teu amor. Ao menos tu e eu a
darmos-lhe a sentir o nosso amor e consolação, já que das criaturas, a quem ela
ama e que estão a seu lado, não recebe consolação, não sente que elas a amam e
até delas tem medo. Tirei-lhe tudo, tudo, tirei-lhe para minha glória,
tirei-lhe para a salvação das almas, tirei-lhe para abrilhantar a escora que
sustenta o braço do meu Eterno Pai, para ela, ao ver tal brilho, tais encantos,
se esqueça do seu poder e use de misericórdia, só de misericórdia para o mundo.
Tirei-lhe tudo, espremi-a, espremi-a, dela consegui os licores deliciosos.
– Desprende-te
de nós, minha filha, vai para a tua cruz, para a tua vida de amor.
O meu coração
estava cheio, cheio; Jesus fechou-o para não sair dele o sangue, e disse:
– Este é o
sangue que germina, gera e dá a vida às virgens como tu.
– Obrigada,
meu Jesus, obrigada, Mãezinha. Custa-me tanto desprender-me de Vós, sair deste
amor! Sim, por Vosso amor desprendo-me, mas antes dai-me este amor para dar às
almas que eu amo e me são tão queridas; dai-mo para eu dar a todos os meus,
dai-mo para eu dar àquela alma que está em perigo e por quem Vos ofereci hoje
os meus sofrimentos. Quero que ela se salve e como sinal disso não quero que
morra sem todos os sacramentos. Dai-mo para eu dar às almas que tanto me fazem
sofrer, para que Vos conheçam melhor e Vos amem cada vez mais. Dai-mo para dar
ao mundo inteiro, para que ele seja salvo.
– Vai, ó
nova redentora, salvadora dos pecadores, vai, obedece, escreve tudo, faz esse
sacrifício, dá o nosso amor como desejas, com toda a abundância.
– Obrigada,
Jesus e Mãezinha, obrigada sempre na terra e no céu.
Voltei à minha
cruz, ao mar imenso das minhas dores. Já lá vão algumas horas e o meu coração
ainda arde como uma grande fornalha.
– Bendito
seja Jesus e o Seu amor. (Sentimentos da alma: 19 de
Janeiro de 1945 – Sexta-feira)
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