quarta-feira, abril 28, 2021

JESUS, ONDE ESTAIS?

 JESUS, VENHO AO VOSSO ENCONTRO

Jesus, venho ao vosso encontro. Onde estais vós? Não poderei encontrar-vos? Ouvi ao menos as minhas mágoas. Se vós me faltais, não tenho ninguém. Vistes-me na manhã de hoje orava na cruz convosco em tão grande agonia, com os olhos levantados para o Céu que senti e vi desaparecer sem a mais pequenina esperança de voltar a vê-lo e de nele poder entrar? Que tristeza a minha de ver tudo perdido e sem remédio! Uma vez descida da cruz, principiei a subir o calvário. Ia tão fraca! Caminhava quase com o rosto em terra; aqui e além caía, feria-me dolorosamente: ficava em sangue. Que medo, que pavor até, ao recordar-me que em pouco ia ser crucificada sem auxílio nenhum da terra. Valeu-me o vosso divino amor; viestes vós ao meu encontro.


— Minha filha, faltam-te as forças humanas; tem coragem, nunca te faltarão as forças divinas. O calvário é o caminho dos meus eleitos, o calvário é o caminho das minhas esposas, o calvário é o caminho das minhas crucificadas. É pelo calvário que eu dou o perdão aos pecadores, é pelo calvário que eu dou amor aos corações. Ânimo, ânimo, minha louquinha, a tua Mãezinha e o teu Paizinho acompanham-te, auxiliam-te numa união íntima.

― Obrigada, meu Jesus.

Animada com as vossas doces palavras fui para o Horto. Nunca vos encontrei, mas a vossa força divina venceu em mim. Senti ; logo no princípio o descaramento com que os soldados se apresentariam no Horto para a prisão. Senti que à frente viria Judas com todo o veneno em seus lábios. Senti no meu corpo os pontapés que um pouco mais tarde, quando me arrastassem pelas cordas, me haviam de dar. Tive no meu coração os Vossos sentimentos, quando víeis à vossa frente todos os pecados e crimes do mundo. Se com todos estes sofrimentos todas as almas se salvassem! Mas ai, quantos ainda se perdem não se aproveitando do meu sofrer. O Jesus, senti o meu corpo banhar-se em sangue, ficando os vestidos pegados a ele e pegados à terra. Mas mais, muito mais ainda sofreu o vosso corpo delicado e divino. Na flagelação e coroação de espinhos velastes sempre por mim. Ao abrigo e amparo de um amor santo e puro, senti inebriar-se-me a alma e numa suavidade e paz descansei por algum tempo.

Veio depois a Mãezinha tomar-me em seu regaço, apertou-me em seus braços, acariciou-me. Com tudo isto, tive muitas vezes que chamar por Vós e por Ela. Assustada com a tristeza e abandono, desfalecida a mais não poder, não tinha forças para caminhar. Sempre em vão invocava o Céu; o abandono era total, tinha que ser sozinha que eu agonizava na cruz. Nessa dolorosa agonia cravou-se-me no coração uma lança; tinha que sentir toda aquela dor ainda antes de expirar. Pobre de mim, pobre da Humanidade que não conhece quanto sofrestes, ó Jesus!

Terminada a crucifixão continuei a viver aparentemente sozinha. Ia recordando a retirada que me fizeram do meu Paizinho espiritual. Mais uma prova do vosso infinito amor, meu Jesus. Fizestes que o Sr. Doutor não só cuidasse de suavizar as dores do meu corpo, mas também que suavizasse a dor dolorosa e profunda da minha alma. Vós que tudo conheceis, serviste-vos dele para preparardes o meu coração para receber a último golpe. Obrigada, meu Jesus; outra coisa não sei dizer. Deixai-me repetir convosco: A minha alma está triste até à morte. Perdi a luz, perdi tudo. A tua bênção e o teu perdão, meu Amor. (Sentimentos da alma: 20 de Fevereiro de 1942).

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