JESUS, VENHO AO VOSSO ENCONTRO
Jesus,
venho ao vosso encontro. Onde estais vós? Não poderei encontrar-vos? Ouvi ao
menos as minhas mágoas. Se vós me faltais, não tenho ninguém. Vistes-me na
manhã de hoje orava na cruz convosco em tão grande agonia, com os olhos
levantados para o Céu que senti e vi desaparecer sem a mais pequenina esperança
de voltar a vê-lo e de nele poder entrar? Que tristeza a minha de ver tudo perdido
e sem remédio! Uma vez descida da cruz, principiei a subir o calvário. Ia tão
fraca! Caminhava quase com o rosto em terra; aqui e além caía, feria-me
dolorosamente: ficava em sangue. Que medo, que pavor até, ao recordar-me que em
pouco ia ser crucificada sem auxílio nenhum da terra. Valeu-me o vosso divino
amor; viestes vós ao meu encontro.
― Obrigada, meu Jesus.
Animada com as vossas doces palavras fui para o Horto.
Nunca vos encontrei, mas a vossa força divina venceu em mim. Senti ; logo no
princípio o descaramento com que os soldados se apresentariam no Horto para a
prisão. Senti que à frente viria Judas com todo o veneno em seus lábios. Senti
no meu corpo os pontapés que um pouco mais tarde, quando me arrastassem pelas
cordas, me haviam de dar. Tive no meu coração os Vossos sentimentos, quando
víeis à vossa frente todos os pecados e crimes do mundo. Se com todos estes
sofrimentos todas as almas se salvassem! Mas ai, quantos ainda se perdem não se
aproveitando do meu sofrer. O Jesus, senti o meu corpo banhar-se em sangue,
ficando os vestidos pegados a ele e pegados à terra. Mas mais, muito mais ainda
sofreu o vosso corpo delicado e divino. Na flagelação e coroação de espinhos
velastes sempre por mim. Ao abrigo e amparo de um amor santo e puro, senti
inebriar-se-me a alma e numa suavidade e paz descansei por algum tempo.
Veio depois a Mãezinha tomar-me em seu regaço, apertou-me
em seus braços, acariciou-me. Com tudo isto, tive muitas vezes que chamar por
Vós e por Ela. Assustada com a tristeza e abandono, desfalecida a mais não
poder, não tinha forças para caminhar. Sempre em vão invocava o Céu; o abandono
era total, tinha que ser sozinha que eu agonizava na cruz. Nessa dolorosa
agonia cravou-se-me no coração uma lança; tinha que sentir toda aquela dor
ainda antes de expirar. Pobre de mim, pobre da Humanidade que não conhece quanto
sofrestes, ó Jesus!
Terminada
a crucifixão continuei a viver aparentemente sozinha. Ia recordando a
retirada que me fizeram do meu Paizinho espiritual. Mais uma prova do vosso
infinito amor, meu Jesus. Fizestes que o Sr. Doutor não só cuidasse de suavizar
as dores do meu corpo, mas também que suavizasse a dor dolorosa e profunda da
minha alma. Vós que tudo conheceis, serviste-vos dele para preparardes o meu
coração para receber a último golpe. Obrigada, meu Jesus; outra coisa não sei
dizer. Deixai-me repetir convosco: A minha alma está triste até à morte. Perdi
a luz, perdi tudo. A tua bênção e o teu perdão, meu Amor. (Sentimentos da alma:
20 de Fevereiro de 1942).
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