E u era a mesa, eu era o pão…
Neste colóquio com Jesus, não tive medo d’Ele,
mas logo depois voltei a sentir todo o meu martírio. De manhã cedo, principiei
a sentir que Jesus chorava dentro em mim. Eu era a cidade de Jerusalém e era
Jesus. Eu era o amor e a ingratidão. Do meu coração saíam para a cidade os mais
doces e ternos olhares; eram olhares de chamamento, olhares de compaixão. Mas
oh! o que eu via sair dali, que revolta contra mim. Ao cair da tarde, senti-me
então reunida com os amigos. Ó meu Deus, o que se passou, que quadros tão
diferentes. Eu era Jesus e contra o meu coração sentia inclinar-se alguém e eu
era esse alguém. Eu era a mesa, eu era o pão e o vinho; eu era o cálice onde
ele era deitado; eu era as taças onde se serviam os alimentos; eu era Judas,
era tudo. Eu era a doçura e mansidão de Jesus; era o desespero e traição de
Judas. Que noite, que santa noite, a maior de todas as noites, a noite do maior
milagre, do maior amor de Jesus. O Seu Divino Coração estava preso àqueles que
Lhe eram tão queridos. Para poder partir, tinha de ficar entre eles, para subir
ao céu, tinha de ficar na terra; assim o obrigava o Seu amor divino. Sinto
necessidade de esclarecer todas estas cenas, mas não posso, não sei. O olhar
esgazeado do mau discípulo ficou gravado em meu coração e todo aquele silêncio
profundo de saudosas despedidas. A amargura da minha alma não podia subir mais
alto. E, para afirmar mais esta amargura, vieram os sofrimentos da terra
causados. Juntei a dor ao sacrifício e quantas vezes em espírito, com os olhos
fitos no céu, ofereci ao trono divino o cálice da minha amargura.
Sentimentos da alma, 8 de Março de 1945.
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