Perdoai-lhes, meu Jesus !
Estou sempre a ser açoutada com as mesmas
varas de espinhos; descarregam-nos sobre mim com toda a crueldade. Nada existe
em mim que não seja ferido por eles. E a morte avizinha-se, e os homens não se
apressam a dar-me o meu paizinho. Que tristeza! Não sabem o que é a dor. Não
sabem quanto valem as luzes e conforto para uma alma.
– Perdoai-lhes, meu Jesus, eu espero em
Vós, confio nas Vossas promessas divinas.
Durante esta noite, não sei se ainda era ontem
ou se já pertencia a hoje, veio o demónio, veio desesperado, veio com todas as
suas maldades, atormentou-me fortemente. Pegou o fogo e deixou em mim as suas
manhas e, para disfarçar que não era ele, pôs-se ao largo. Só depois de eu
muito lutar e de me parecer que tinha ofendido o meu Jesus tão gravemente é que
ele se aproximou novamente a cobrir-me de insultos e a dar-me a afirmação de eu
ter pecado. Estava num lago de suores na posição mais violenta que podia estar.
Debaixo de mim um medonho abismo e muitos demónios em forma de esqueletos e de
animais ferozes a atormentarem uma massa que lá estava. Ó meu Deus, que horror!
Não podia falar nem gemer nem dar o mais pequeno movimento ao meu corpo.
Pensei:
— Se me não valeis, meu Jesus, morro
aqui. Valei-me, valei-me, vinde em meu auxílio.
Serenou tudo. Passados uns momentos, ouvi
Jesus a dizer:
— Anjo celeste, anjo bendito, anjo que eu
escolhi para guardares, guiares e amparares a minha vítima amada. Levanta-a,
leva-a ao seu lugar.
No mesmo instante, sem me causar o mais
pequeno incómodo, fiquei na minha posição. Mas logo em dúvidas e grande agonia.
Jesus esteve em silêncio uns momentos e depois continuou:
— Não pecaste, minha filha: reparaste,
consolaste, honraste o meu divino coração. Para as almas não sofrerem no
inferno o que naquele abismo viste é que exijo de ti esta reparação. É fogo de
vícios, são paixões, é a carne. Para reparar nesta matéria, só uma virgem
inocente, só um enchente de fogo de amor pode apagar o enchente de vícios
lodaçais. Tu és o brilho e encanto dos meus olhos. Sossega, sossega, não
pecaste. Dá ao meu querido Padre Humberto a abundância do meu amor. Diz-lhe que
estou com ele quando ora, quando trabalha, quando guia e encaminha para mim a
tua alma. Dá-lhe por mim os meus agradecimentos.
Sentimentos da alma, 8 de Março de 1945.
1 comentário:
Quanto sofrimento generoso querida Alexandrina! quantas almas estão no céu graças à tua entrega! Mas infelizmente no hoje da nossa sociedade o demónio assumiu por completa a forma humana e vive entre os humanos. Tanta maldade, a perca total dos valores da familia que as arrasta para a desunião, quantos filhos orfãos de pais vivos, quantos idosos abandonados à sua sorte ou à sua desgraça, e tudo porquê, porque os homens colocaram Deus fora da suas vidas, ignorando que matando Deus, matam o próprio homem. Continua a interceder por nós junto de Jesus e obrigado pela graça que d'Ele obtiveste para a minha esposa. Um beijo em Cristo.
Fernando Luis Santana Conceição
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