Já aqui
falei da fé e da esperança na Alexandrina. Para terminar vou falar agora da
última virtude teologal, a caridade, que nela era, como as outras uma virtude
nata.
A caridade
que também se conjuga com o amor pode e deve ser compreendida sobre dois prismas:
o amor a Deus e o amor ao próximo, como nos ensina o Senhor nos Dez Mandamentos.
«O aspecto característico, muito pessoal e
evidente da espiritualidade da Alexandrina, foi o amor. Todo o seu falar, todo
o seu agir estavam embebidos nesta virtude e eram por ela impulsionados. No
amor resumia tudo. Os seus conselhos eram sempre repassados de amor, convites
ao amor para com Deus, para com Nossa Senhora e para com as almas. Deu-se toda
e sempre por amor a Nosso Senhor. A Ele não pedia outra coisa a não ser o amor,
e não quis senão fazer a vontade de Deus, de quem se fez vítima.»
Falando do
seu amor para com Deus, podemos dizer que este amor, «enquanto lhe enchia a alma de gratidão por tudo o que d’Ele recebia,
fê-la zelosa pela glória e interesses divinos.»
Pode
dizer-se que a Alexandrina «manteve-se em
vida porque o amor a fazia viver.»
Também é
pertinente afirmar que «não encontrando
em si mesma possibilidades para amar mais, imensamente mais, como queria, dava
linguagem a todas as criaturas, convidando-as a amarem e louvarem por ela o
Senhor. Era seu desejo e ânsia ardente transformar o mundo numa fornalha de
amor.»
Todos os
actos da sua vida transpiravam de amor a Deus.
«Na acção de graças depois da Comunhão, às vezes
levantava-se em ímpetos de amor e punha-se de joelhos na cama, o peito arquejante,
o rosto afogueado, como se uma torrente de amor a invadisse toda.»
Outras
vezes, «falando das coisas de Deus,
aconteceu ver-se-lhe o rosto transfigurado, mais parecendo uma criatura
celestial do que humana. Notou-se, nessas ocasiões, que o seu corpo emitia
calor como se estivesse abrasada em febre.»
«Impressionava muitíssimo a linguagem dela ao
pedir amor a Jesus e a Nossa Senhora. Tratava-se da forma mais perfeita do
amor, pois queria a Deus não pelas consolações, promessas ou prémio, mas por
Ele mesmo.»
Assim viviam
os Santos e Santas de Deus que a Igreja glorificou para que sejam para nós faróis
e exemplos a seguir.
Vejamos
agora como era o seu amor para com o próximo.
«A caridade para com o próximo era nela o reflexo
do amor que tinha para com Deus, do qual tirava a medida para amar o seu
semelhante.»
O seu amor
para com o próximo era tão grande que orava por todos sem excepção, até mesmo
por aqueles que a perseguiam ou a caluniavam.
«O motivo que a impelia a debruçar-se sobre o seu
próximo foi sempre e exclusivamente sobrenatural.»
A
Alexandrina «nunca se deixou levar por
sentimentos de simpatia, de animosidade ou por outros motivos humanos, mas só e
sempre pela caridade, mesmo com os da sua família.» Prova disto, «a amizade mais profunda para com a irmã
Deolinda serviu para se elevarem mutuamente, cada vez mais, para Nosso Senhor»,
ao ponto que o Padre Mariano Pinho confessou não saber qual delas era a mais
santa.
Daqui poder «afirmar-se que a prática da caridade era o
que mais aconselhava e admirava na vida das pessoas.»
Em certas
ocasiões, àqueles que a visitavam, «teve por vezes, de fazer repreensões, mas
preocupava-se com chegar ao coração e levar as pessoas a considerarem as faltas
por aquilo que elas representam de ofensa a Deus.»
Acontecia
igualmente que «por causa das almas infiéis
à graça vertia lágrimas, rezava e sofria, oferecendo-se por elas heroicamente.»
A caridade
da Alexandrina, o seu amor ao próximo não se limitava àquelas pessoas que ela
conhecia ou a visitavam, bem pelo contrário, tinha «o cunho da universalidade.
Abrangia nas suas intenções todo o mundo e as necessidades de todos os homens,
como se fosse mãe de todos: para ela não havia fronteiras.»
Amor heróico
porque «nas suas preces pedia a Nosso
Senhor para que poupasse o sofrimento aos outros e, em vez deles, a fizesse
sofrer a ela.»
Diz Jesus
que «não há maior amor que dar a vida
pelos irmãos.»
A
heroicidade do amor da Alexandrina pelos pecadores fica aqui bem patente: «Pouco depois de ter acamado, ofereceu-se
vítima “para consolar Jesus e salvar-Lhe as almas”».
«Amou com invulgar amor o Santo Padre. Quis
consola-lo durante a guerra e por ele ofereceu a vida.»
«Ofereceu-se vítima para a Consagração do Mundo ao
Imaculado Coração de Maria, para que houvesse paz na Europa.»
Seria longo
enumerar todos os actos de amor caridoso para com o próximo feitos pela
“Doentinha de Balasar”.
Aprendamos
com ela a amar a Deus sobre todos as coisas e ao próximo como a nós mesmos,
mesmo quando isso nos parece difícil.
Afonso Rocha
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