O dia 5 de Junho de 1943 é o Primeiro sábado do mês. Como habitualmente
Jesus e a sua bendita Mãe vêm visitar a “Doentinha de Balasar”, para lhe
incutirem coragem para que ela possa levar a cabo a grande missão que lhe fora
confiada.
Jesus começa por afirmar-lhe que “a
alma fiel não teme a cruz ; toma-a, abraça-a, acaricia-a, leva-a só por
amor!”
E como se esta afirmação não parecesse suficiente, Ele acrescenta ainda que
“os espinhos com que Jesus adorna na
terra as suas crucificadas transformar-se-ão no Céu em pétalas das rosas mais
belas e viçosas”.
É assim que o Senhor trata as suas esposas; é assim que Ele as “adorna”: com espinhos e sofrimentos de
toda a espécie.
Não se trata aqui de dolorismo ou da apologia deste, mas simplesmente de
mística, de mística pura e de comunhão dos Santos, o que poderíamos chamar
também “vasos comunicantes”.
“Estou convencido ― escreve S.
Paulo aos Romanos ― de que os
sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de
revelar-se em nós” (Ro. 8, 18).
Jesus quis “precisar” de almas
vítimas para continuar, ao longo dos séculos, o mistério da Redenção; não que a
sua morte dolorosa e redentora não fosse suficiente para resgatar a humanidade
inteira, mas simplesmente por que Ele quis associar a esta mesma Redenção essas
almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse fim. É por isso que
lemos em S. Paulo aquela célebre frase em que ele afirma “completar no seu corpo o que faltou à Paixão de Cristo”, ou ainda “porque àqueles que Ele de antemão conheceu,
também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho”.
Dessas almas predestinadas que livremente se ofereceram para esse fim, a
Beata Alexandrina é um exemplo concreto e “palpável”,
se assim nos podemos exprimir. Ela mesma o afirma aqui categoricamente: “eu dou-me a vós, eu sofro por vós,
despedaçai de dor o meu coração”. E porque se oferece ela assim tão firme e
categoricamente? A resposta também ela a dá a seguir: “Eu quero dar-vos as
almas”, como se ela dissesse: “Eu quero
participar na redenção da humanidade, participar da maneira que Vós mesmo
desejais, meu Jesus!”
Esta oferta generosa não fica sem resposta, não cai no esquecimento do
Senhor, porque no Senhor tudo é e está presente: “Como é encantador para Jesus uma virgem que a Ele toda se dá e por Ele
tudo sofre!”
E quando assim é, que mais desejará a alma vítima, de que poderá ter medo?
Esta pergunta faz também o Apóstolo Paulo: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a
perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Ro. 8, 35) E, como em
S. Paulo toda a questão tem a sua resposta, ele a dá algumas linhas mais
adiante: “Estou convencido de que nem a
morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro,
nem as potestades, nem a altura, nem o abismo, nem qualquer outra criatura
poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso” (Ro.
8, 38-39).
É, como diz o mesmo Apóstolo, na mesma Carta (Ro. 8, 14) : “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito,
esses é que são filhos de Deus”.
Assim é também com a Alexandrina.
Mesmo quando Jesus a “felicita”,
quando lhe diz que ela “é o cofre
riquíssimo que Jesus tem na terra”, ela continua humilde, convicta de que
nada é e que aquilo que “tem” lhe é
dado pelo Senhor, “rico em misericórdia”,
não podendo pois gloriar-se daquilo que não lhe pertence e que “recebeu por acréscimo”, “contando com toda a graça e força do Céu”
para poder “distribuir às almas” as
graças de que pela bondade divina foi feita depositária.
Jesus tem depois palavras carinhosas para todos aqueles que ajudam a
Alexandrina “a subir o doloroso Calvário”,
aconselha-os e promete-lhes a sua divina protecção “que contem sempre com as graças e bênçãos do Senhor”.
A página do Diário termina com a intervenção de Maria, uma curta mensagem
de encorajamento para a Alexandrina:
― Toma conforto, minha
filhinha, esposa do meu Jesus, salvação de todos os meus filhos. Como és amada
de toda a corte celeste!
Textos tirados dos Sentimentos da alma de 5 de
Junho de 1943, Primeiro sábado do mês.
Afonso Rocha
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