sexta-feira, setembro 15, 2006

ALEXANDRINA MÍSTICA – 2

Que é um místico ?

O místico não é só aquele ou aquela que beneficia de visões sensíveis ou imaginativas ; de locuções interiores, levitações, bilocações ou quaisquer outros dons sobrenaturais excepcionais ; o místico é também, e sobretudo, aquele que vive uma vida interior cheia de recolhimento, cheia de amor de Deus ; o místico é ainda aquele que vive exclusivamente para Deus, de Deus e em Deus, conformando a sua vida, tanto quanto lhe é possível, aos ensinamentos evangélicos, ensinamentos deixados pelo próprio Jesus, que os viveu ao mais alto grau, de maneira que, seguindo o seu exemplo, todos se reconheçam nele.
O místico é portanto aquele que faz dos dois primeiros mandamentos de Deus uma regra de vida e que os vive plenamente, sem se preocupar minimamente de qualquer outra atracção que a vida ou as circunstâncias desta colocam na sua frente.
O verdadeiro místico pensa só em Deus, exclusivamente ; nada mais procura fazer do que a vontade de Deus em todas as coisas, mesmo ao risco de sofrimentos, mesmo se por isso ele deve oferecer a sua própria vida. Isto é pois o primeiro mandamento : “adorar à Deus e ama-lo acima de todas as coisas”.
O verdadeiro místico preocupa-se da salvação das almas e aceita, sem qualquer receio, humilde e amorosamente, participar na redenção do seu próximo. Eis aqui o segundo mandamento : “amar o próximo como a si mesmo”.
O místico não é fanático, mas sim aquele que, habitado pelo amor de Deus, uma só coisa deseja, de nada mais precisa, de nada mais se interessa senão deste amor cioso e amorosamente possessivo que é o amor de Deus, para o qual ele pende continuamente.
O místico é aquele que, ao mínimo chamamento se encontra todo inteiro na presença do se bem amado, que responde sempre presente ao mais pequenino apelo da Sabedoria infinita, à mínima solicitação da Misericórdia divina.
O místico é aquele que, ouvindo pronunciar « o Nome que está acima de qualquer Nome » [1], o nome do seu bem amado, se sente ligeiro como o ar, sente o seu coração cavalgar, arder de amor pelo “esposo”, e, por pouco que não consiga dominar-se, sente seus olhos cheios de lágrimas de alegria, aperta o seu peito e grita : “Jesus ! Jesus, eu amo-te, sou todo teu !” Ele tem como a impressão de já não viver neste mundo e, o seu único e mais veemente desejo è o Céu.
(Continua)

[1] S. Paulo aos Filipenses: 2, 9.

Afonso Rocha

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