Como a mãe que se deita ao pé do filhinho para o adormecer
Grande sofrimento, triste e doloroso. Ai, meu Jesus, não sei exprimir quanto sofro, não compreendo tal dor. Choro, choro sempre a perda do meu corpo, a morte da minha alma. A cada passo sinto em mim como que uma bomba que vai explodir tudo. Tremo apavorada. Prenderam-me os voos; estou como a pombinha na escuridão, sem ver caminho, batendo as asas no ar sem poder descer, sem poder subir, de asas presas, temerosa de cair desastradamente.
Ó meu Deus, que será de mim? Vede bem o meu sofrimento, tende compaixão, compadecei-Vos de quem só confia em Vós.
Hoje de manhã cedo era tal a dor que sentia em mim, era tal a repugnância e a vergonha que me causava o ver que todo o povo se preparava e esperava novos acontecimentos. Parecia-me ver grupos aqui e acolá fazendo comentários. Meu Deus, espera-me a sexta-feira! Que medo! Tudo isto que eu sinto e vejo por Vós passou, meu Jesus. São sofrimentos Vossos, que tanto sofrestes por meu amor.
Os meus olhos parecem penetrar no íntimo de toda a multidão que ocupa as ruas. A minha alma sente tudo. Ao lado de uma montanha, perto de entrar numa cidade, a figueira amaldiçoada por Jesus. Mais abaixo alguém traz à cabeça uma bilha de água. Há encontros, falam, preparam-se para novos acontecimentos. Vi tudo, senti tudo. Oh, quanto sofria em silêncio! A figueira de que acima falei, tive o conhecimento que a vi verde, florescida e hoje já seca, como lenha velha para o lume. Eu não pensava em nada disto, antes pelo contrário; quando principiava a sentir estes sentimentos de alma, esforçava-me por me distrair e fazer de conta que nada sentia. O meu esforço era inútil, de cada vez se avivavam mais estes sentimentos de alma. Este meu esforço de nada querer sentir não é para fugir à dor nem à vontade do meu Jesus, mas sim o receio de ser confusão minha ou ilusão. Estou convencida que não é. Nosso Senhor, ao ver tal receio e medo de engano não podia deixar-me enganar. Ninguém como Ele sabe que não quero enganar ninguém.
As manhas do maldito continuam cada vez mais, parece que a sua malícia refina. Diz-me o que há de pior. Ai, meu Deus, que coisas tão feias! Blasfema contra Nosso Senhor, acusa-O como réu de culpa e faz que eu diga tudo, ou parece-me que digo e depois afirma-me que sou eu e deixa-me quase nessa persuasão. Só com Nosso Senhor a alma e o pobre corpo pode resistir a tanto. O coração de aflito faz ruído enorme, com o receio de pecar e dizer tantas coisas contra o meu Jesus. Na última luta fiquei quase sem vida. Murmurava:
Ó meu Jesus, ó minha querida Mãezinha! Meu Deus, que triste vida a minha! Que será de mim?
Não podia mover-me e necessitava de alívio. Veio Jesus com as suas santíssimas mãos, colocou-me na posição que eu desejava, cobriu-me de carícias e como a mãe que se deita ao pé do filhinho para o adormecer, disse-me :
— Descansa comigo. Não é triste a tua vida, filhinha, é vida de reparação e sacrifício. Alegra-te comigo, com a consolação que Me dás. Não pecas, não, minha amada.
Senti logo paz na minha alma. Muito chegadinha a Jesus, depressa pude adormecer, coberta com as suas carícias, abrasada no seu amor. (Beata Alexandrina: Sentimentos da Alma, 7 de Dezembro de 1944).
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