quarta-feira, março 30, 2011

TIVE A SANTA MISSA NO DIA 30 DE MARÇO

30 de Março – Aniversário do Nascimento da Beata Alexandrina.

Tive, nestes dias, várias coisas que deviam ser para mim de grande consolação, mas não foram. Tudo recebi indiferente, apenas senti um pouco de conforto na alma. Causa-me horror a minha vida, esta vida que é só morte, escuridão e eternidade. Eu não ando à busca de consolações. Para mim a minha única ansiedade é dá-la a Jesus, é que Ele seja consolado e amado. Eu queria o mundo todo num incêndio de amor. Queria todos os corações a arderem no mesmo amor. Parece que morro por não ver Jesus amado com aquele amor de que Ele é digno.

No dia 27, data do 12º aniversário em que deixei de me alimentar, nunca poderei dizer o que senti em mim. A fome era tão grande, tão grande, era infinita, mas não fome para comer. Estava como que tivesse o peito e o coração abertos, e vinha o mundo como se fossem ondas do mar para junto de mim. Quanto mais tinha, quantas mais ondas vinham, eu mais ia ao encontro delas e maior era a ansiedade de as possuir. A humanidade era o mar e todo esse mar era meu e cabia dentro em meu peito e coração. Sofri amargamente, infinitamente por todo esse mar não entrar em mim. Sofri sozinha, em silêncio. Os meus desabafos foram para Jesus e para a Mãezinha; apesar de sentir a Sua perda, fazia-os com actos de fé. Ao que eu cheguei!... à inutilidade, à eternidade!... Na minha arte de cavadora, os suores regam-me a alma. O corpo num tormento indizível fica banhado nos mesmos suores. À volta do meu sepulcro nascem tantas açucenas, tantos lírios brancos; alguém os rega e cuida deles com canseira e com amor. Não sou eu, não sei quem é. Eu vivo uma vida separada, diferente e indiferente a tudo isto. Tive a Santa Missa no dia 30 de Março. Que confusão e vergonha para mim! Sou acompanhá-la ao Sanctus e elevação do cálix e da hóstia. Que se alegre Jesus na minha tristeza. Não posso dizer mais nada. Vou ver se consigo dizer as palavras de Jesus. Quando hoje se aproximavam as três horas, senti como se alguém me lembrasse o horto e o calvário que em toda a minha vida tinha sido esquecido. Parecia-me bater o pé no chão orgulhosa como se não quisesse um Deus, nem nada superior a mim. Odienta, escarrava o horto e o calvário. Fazia actos de fé para convencer-me que nada era assim. Veio Jesus e disse:

― “O meu Divino Coração é asilo, é refúgio das almas vítimas que se deram inteiramente a mim. Vem, minha filha, vem, esposa querida, toma conforto, recebe vida para tanta vida que a dor consumiu.”

Fui impelida e tão depressa fui ao regaço de Jesus como entrei no Seu Coração divino. Ali repousei mergulhada no Seu amor. Sem saber como, Ele desapareceu-me e em vez do Seu Coração tive por leito o chão duro e por luz as trevas mais densas. Era um bosque, era uma montanha de espinhos, era uma montanha inigualável que me separava de Jesus. Sem poder mover-me, sem poder levantar-me, com o rosto em terra chorava as minhas lágrimas, chamava por Ele e repetia os meus actos de fé. Depois de muito tempo, apareceu Ele junto de mim: tinha rompido a montanha. De todas as Suas chagas, pés, mãos e coração saíam raios como sóis brilhantes. Todos estes raios inclinavam-se para mim. Da superfície das chagas caía sangue com tanta abundância como a água cai no chafariz e transborda. Mexida remexida pelos raios, fiquei de olhos fitos em Jesus.

― Não posso nada, Senhor! Não pude ir ao Vosso encontro!

― “Vim Eu ao teu, minha filha. Estes raios são do meu amor. Este sangue é sangue de dor. Esta montanha é a montanha do vício, montanha do crime. É o mundo, é o mundo que me fere. Sofre, sofre. Se não fossem as tuas lágrimas, a tua dor, o teu amor, o mundo, os pecadores não seriam salvos. Que grande é a tua reparação! Sofre, porque Eu estou contigo. Quanto mais longe Me sentes, mais me possuis. Todo o teu sofrimento são invenções minhas para acudir aos sacerdotes, para salvar os pecadores. Repara-me por eles.

Recebe agora a gota do meu Divino sangue. É a minha vida que te faz viver, é o meu amor, o teu amor às almas, o teu amor à cruz. O que te fiz sofrer no aniversário do teu jejum é nem mais nem menos o meu sofrimento, a minha fome, a minha ansiedade das almas. Fica na tua cruz, fica na tua missão salvadora. Repete os teus actos de fé; em tal sofrimento só com eles te agarras a Mim sem Me veres, sem Me sentires. Coragem! Coragem!”

Fiquei logo nas trevas sem saber de Jesus a fazer-Lhe os meus pedidos.
(Beata Alexandrina: "Sentimentos da alma" 2 de Abril de 1954).

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