quinta-feira, novembro 24, 2011

MUITOS FUGIAM DA LUZ...

A minha alma viu o Céu descer sobre a terra

Nos três ataques ao espírito, teve que lutar também o corpo; o maldito tratou comigo como se fosse um mudo. Eram só gestos e pinturas maldosas. Isto foi motivo de maior tormento; mais me parecia que não era influência dele, mas sim minha, só minha. Pareceu-me que o coração, no auge da dor, veio palpitar para fora do peito; não cabia em mim. Ensopada em suor, chamei por Jesus e pela a Mãezinha, e fiquei libertada.
Chamaria a tempo? Não chegaria a pecar? Que medo eu tenho! Ai a minha vida tão cheia de misérias e tão falha de virtudes e merecimentos. Que cegueira, que mortandade! Vivo sem viver, ou vivo sem sentir que vivo. Ó Jesus, sou a Vossa vítima, imolai-me ao Vosso gosto.
Ontem, ao cair da tarde, a minha alma viu o Céu descer sobre a terra; vinha dar-lhe luz, porque estava em trevas, vinha dar-lhe vida, porque estava morta. Era Jesus que vinha dar esta luz e esta vida, mas oh! como foi rejeitada. Eu via uma massa grandiosíssima fugir à luz e à vida de Jesus. Que dor dolorosíssima me causou na minha alma; conduziu-me logo ao Horto esta dor. Jesus foi dentro em mim e dentro em mim Ele orou com o Seu Santíssimo peito sobre uma pedra dura, e cercado de grandes varas de espinhos, que se enleavam umas nas outras, estava o cálice, que recebia o sangue e toda a amargura de Jesus.
Eu sentia que só ele sofria; era tal a Sua dor, que causava espanto e admiração aos Anjos, que do sofrimento, como se fossem estrelas, O contemplavam. Só o Céu compreendia a dor de Jesus. Depois do Céu, era a Mãezinha a compreendê-la e a vivê-la. Como Jesus e a Mãezinha se amavam e viam, um através do outro. Toda a terra ignorava, mesmo os discípulos de Jesus, a dor de tão amantes corações. Faz enlouquecer tanta dor, tanto amor. Ó meu Deus, que mal Vos tenho correspondido!
Hoje, segui o Calvário. A minha cabeça esteve com a de Jesus, por algum tempo, pousada na terra nua com o desfalecimento do corpo que, nesta ocasião, mais barbaramente recebia os maus-tratos. O sangue corria pelos olhos e ouvidos. Toda chagada, fiquei na cruz crucificada. Estava no alto para escárnio de quase todos que ocupavam o Calvário. Vi a Mãezinha subir a montanha; foi o meu pobre coração que sentiu e a alma que viu a Sua dor e olhares angustiosos, que mal A deixavam arrastar-se. Quanto isto custou a Jesus! Foi a união dos Seus divinos corações e o amor que A conduziram ao Calvário. Não sei dizer o que senti que Eles sofreram e amaram. Se fosse possível eu falar desta dor e amor por toda a eternidade, podia dizer que nada dizia. Sofro por só isto saber dizer. Formou-se um Calvário de espinhos; subiram tanto que encobriram a cruz. Entre eles como num só coração, num só amor e numa só alma estava Jesus, a Mãezinha e eu a darmos a vida, esmagados pela justiça divina. Eu sentia e via a mãezinha por Jesus; não era em mim que Ela estava, era Jesus em mim e Ela em Jesus. Foi para os três o mesmo Calvário, a mesma agonia. Senti-me morrer e morta ficar, por um espaço de tempo.

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 21 de Novembro de 1947 - Sexta-feira)

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