Parece que tem braços para abraçar
Sinto em mim as chagas de tal modo abertas, que, apesar de serem em mim, parece-me, por dentro delas, passar de um lado para o outro. Mas não sou só eu, é o mundo inteiro que por elas atravessa, por elas passa, ora por uma, ora por outra; são portas francas, pelas quais todos podem passar, sem pedirem autorização.
Todas estas chagas dão passagem para um só caminho, que vai ter à chaga do coração e da chaga dele passam a outro Coração, que unido ao meu está. Oh! e com que ansiedade esse Coração recebe a todos quantos para Ele querem ir. Parece que tem braços para abraçar, olhos para fitar e atrair, lábios para sorrir e beijar. Que coração, que coração que é amor, só amor! O meu é tão pequenino e mesquinho, nada, mesmo tão nada ao pé deste; não sei até como, sendo assim tão pequenino, pode ter em si chaga tão grande, parece uma chaga mundial. Custa-me tanto a aguentá-la! É tão grande, é mesmo imensa a dor que me causa. Sofro tanto, e não sou capaz de, com os meus sofrimentos, remediar tanto mal. Eu quero, não sei o que quero; quero tudo em poucas coisas se resumem. Consolar e amar Jesus, fazer só a Sua divina vontade e salvar-Lhe as almas. Quero as almas, quero o mundo, quero-o para Jesus. Não sou eu o anseio é Ele. Ai como eu O sinto, de braços abertos, para o receber e abraçar.
Não sou capaz, não me é possível, por mais que eu sofra, dar alegria, dar alegria ao meu Jesus, amá-Lo com a maior loucura. Ai de mim, e eu quero amá-Lo! Não resisto a estes desejos de amar a Ele, só a Ele; e temo não resistir, não vencer atravessar as trevas, que, de cada vez, se tornam mais distantes, mais profundas, mais minhas, minhas para por elas caminhar, minhas para nelas sofrer, minhas sem serem minhas; sou feitora deste terreno de negra escuridão. Temo-as tanto e quero-as, não as posso deixar.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 31 de Outubro de 1947 - Sexta-feira)
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