O ódio dos algozes, junto à cruz, aumentava...
Fui pouco depois à prisão, ao encontro de Jesus. Vi-O tão desfigurado e cheio de frio. O meu pobre coração queria lançar-se aos Seus pés para ser por Jesus calcada e humilhada. Queria aquecê-lO com o meu amor, e não o tinha. Senti-me como se tomasse Jesus pela mão e O ajudasse a caminhar. Segui com Ele o Calvário e sentia que a escuridão, em que estava mergulhada, era a escuridão da nossa cegueira, da nossa ingratidão para com Jesus. No meio do ódio e maus-tratos, parecia-me que Jesus me ajudava a mim no meu desfalecimento, e eu, pobre criatura Sua, a Ele O auxiliava.
No Calvário do meu peito, por quantas vezes senti Jesus desfalecer e quase expirar! O ódio dos algozes, junto à cruz, aumentava. Faltavam corações amorosos, só o da Mãezinha e poucos mais choravam os martírios do Senhor. Ó agonia, ó agonia! A Mãezinha parecia formar voo na Sua agonia para o cimo da cruz para suavizar e acariciar o Seu divino Filho. Os sentimentos dolorosos do Seu Santíssimo Coração mais dolorosa fazia a agonia de Jesus. O Seu divino Coração ardia de amor, e, no momento Dele expirar, pareceu despejar-se por toda a humanidade como vaso de delicioso perfume. Expirou Jesus, e com Ele para, pouco depois, vivermos. Ele veio e disse-me:
― Estou em ti como esposo para contigo desabafar as Minhas mágoas para te condores de Mim. Venho a ti como Pai, Minha filha, para que Me obedeças e atendas aos meus pedidos. Habito em ti como Rei, no palácio do teu coração, para contigo reinar e mais uma vez provar ao mundo que és a Minha rainha. Repara como Eu venho, olha para o Meu divino lado.
Vi o sagrado peito de Jesus aberto e, dentro, o Seu divino Coração ferido, a sangrar. Quis logo arrancar a ferida de Jesus, passá-la para mim; não podia vê-Lo sofrer. Senti que Jesus, por ver a minha ansiedade e pena do Seu sofrer, logo cerrou a ferida do Seu divino Coração, e disse-me:
― Para não estar Eu sempre assim, por saber que não queres a Minha dor, fiz que o teu coração sangrasse e a Minha ferida passasse para ti. O mesmo fiz com a cruz e a coroa dos Meus espinhos. Quando te apareci a caminhar com ela foi para que te condoesses e na tua grande generosidade a aceitasses. É a razão porque assim te sentes sobrecarregada com o seu peso. Minha filha, Minha amada filha, quanto mais ferida te sentires pelos espinhos, arrastada e esmagada pelo peso da cruz, maior quero que seja o teu esforço em a receberes e suportares com alegria, mais frequentes e fervorosos os teus actos de amor. É nessas horas que Eu sou mais ofendido. Sabes quem assim Me fere tão barbaramente? São as almas consagradas a Mim, aquelas que dizem amarem-Me e serem Minhas amigas; mas não o são. Custa-Me mais, muito mais, as ofensas destas do que o crimes dos pecadores, porque esses, muitos não crêem em Mim nem se dizem amigos Meus.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 28 de Novembro de 1947 - Sexta-feira)
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