Contra este sol vinham nuvens negras...
Não posso ver sofrer Jesus, não posso sentir a Sua dor nem a ingratidão. E eu sou do número que O ofende gravemente, sou do número dos ingratos, muitos ingratos. Como posso proceder assim, ó meu Jesus? Parece que não tenho coração para Vos amar; se eu Vos amasse não Vos ofendia. Ai de mim, pobre de mim, que tanto Vos queria amar. Dar o meu sangue, a minha vida pelo Vosso divino amor é pouco; queria todo o sangue, todas as vidas e depois de tudo isso eu ainda dizia que não vos amava e nada tinha para Vos dar. Remediai este mal, Jesus, saciai os meus desejos. A vida foge, o fim aproxima-se, e eu morro de pavor, sozinha, em trevas, de mãos vazias. Existiu porventura algum dia, por algum tempo, em mim a luz? Sei o que é a luz, compreendo os efeitos, que a luz produz? Não, meu Jesus, tudo morreu para mim sem me deixar sinal algum da sua existência, dos seus efeitos. Bendito sejais.
Na tarde de ontem, parecia-me aparecer do Céu uns raios de sol, que davam vida à terra e a iluminavam de tantas trevas, que a submergiam. Contra este sol vinham nuvens negras, assustadas a encobri-lo. Parecia que tinha Jesus dentro de mim a contemplar, a fitar este sol e as nuvens formadas de todas as maldades, que tentavam encobri-lo. Jesus lançava-se às nuvens para as abraçar, embora que apavorado com elas; o Seu divino Corpo cobria-se de suor e sofria sozinho. De longe a longe fitava o Céu e bendizia a Seu eterno Pai.
Durante a ceia, eu queria poder mostrar o rosto de Jesus, tal qual O vi, inflamado de amor. Queria poder fazer sentir a todos os corações o que é o amor de Jesus para com a alma que verdadeiramente O ama. Como se uniram tão docemente o Coração divino de Jesus ao coração do discípulo amado! Jesus consolava-se no Seu discípulo e este no seu Mestre. Esta união suavizou a dor angustiosa de Jesus. Vi-O depois tomar em Suas divinas mãos uma bacia grande, redonda, cingir o Seu pescoço com uma toalha e seguir o lava-pés. Depois de sair da sala e se despedir da Mãezinha, um pouco já retirado, fitou-a novamente, como que a dar-Lhe um novo adeus. Ela fitava o Seu Jesus, no cimo da escadaria. Ele desapareceu, mas ficaram sempre unidos. À saída da cidade, ao principiar a subir, Jesus viu todo o sofrimento que O esperava; banhou-se novamente em suor, e á a cair desfalecido. A Sua vida divina fez que não caísse, e forçou-O a caminhar.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 5 de Dezembro de 1947 - Sexta-feira)
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