Chamava por Jesus e pela Mãezinha
O demónio tem-se regalado de atormentar-me; tentou levar-me ao desespero, persuadir-me de que não sou ouvida por Deus, que nada adiantam as minhas orações.
Depois desta tentativa, veio atormentar-me com os seus ataques. Foram oito assaltos, e sempre de noite. Em duas noites foram três, a seguirem-se uns aos outros, e, noutra, foram dois. Não sei, parece-me que nunca teria a coragem de dizer as coisas horrorosas que ele dizia contra Jesus e os gestos maliciosos que ele fazia. Horrorizava-me, por dois motivos; um pelo receio de pecar, outro por tais coisas ter que ouvir de Jesus e temer que, na mesma ocasião, Ele me castigasse. Que horror e que, horrorosos são os crimes com que Ele é ofendido! O meu coração pareceu-me saltar para fora do peito; a batida que ele fazia com tanta força, não parecia de um coração, mas sim duma fábrica. Eu estava toda revestida de malícia, todo o meu ser era inferno, tinha toda a maldade do demónio.
Tinha uns pequenos intervalos de um combate ao outro, mas ficava sempre a ele presa pela loucura das paixões. Compreendia toda a malícia e sabia o que ele me representava ou fazia sentir. Não deixava por isso com toda a alma e coração chamar por Jesus e pela Mãezinha, dizer-Lhes que não queria pecar, que antes queria o inferno, que era a Sua vítima. Tudo isto me parecia que já era tarde, que só recorria ao Céu, depois de ter pecado.
Apenas terminava o último combate, parecia-me ter vindo não sei de onde, dum mundo para o outro, dum mundo maldoso e criminoso para um mundo inocente; e logo deixava de compreender tais maldades, mas com o coração a sangrar de dor, por muito tempo. Que triste vida, Jesus; que triste vida, Mãezinha; sou sempre a Vossa vítima para Vos consolar e amar, desejosa sempre de em tudo cumprir a vontade do Senhor.
Na tardinha de ontem, vi atrás de Jesus a Mãezinha, junto à cruz, quase a desmaiar de dor; vi, no mesmo momento que não foram mãos humanas que A ampararam, mas sim o amor de Jesus, que em raios doirados, A cercaram e sustentaram firme sem cair. Depois disto, caiu sobre mim a montanha do Calvário; o peso era esmagador; que aniquilamento! Senti que Jesus caminhava comigo, curvado com o peso da mesma montanha. O Seu Santíssimo corpo banhava-se em suor, da cabeça aos pés, a Sua tristeza era a mais profunda, a escuridão era a da noite mais tremenda.
Passamos para a ceia. Vi o rosto de Jesus, afogueado de amor; iluminava toda a mesa e aposento. Era lindo vê-Lo com os olhos feitos no Céu; era lindo ver e sentir a doçura com que Ele deixou inclinar sobre o Seu Santíssimo peito o discípulo amado. Foi doloroso e arrepiante ler no coração de Judas os maus intentos, a falsidade que tinha para com Jesus e ser por seus olhares venenosos contemplado. Judas fitava Jesus com maldade, e, sem querer fazê-lo, fazia para disfarçar. Jesus fazia-o com doçura e bondade para o convidar a Si. Sem sair dali, vi todo o Horto, cheio de agonia. E pelo meu coração passaram as lágrimas da Mãezinha, ao saber de Jesus preso e tudo o que Lhe faziam.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 31 de Outubro de 1947 - Sexta-feira)
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