quarta-feira, abril 01, 2015

TESTEMUNHOS SOBRE A BEATA ALEXANDRINA

A GRANDEZA NA POBREZA !

Em 21 de Outubro de 1941, escrevia ao Sr. José G. Gomes, de Travassos (Póvoa de Lanhoso): «Diz-me na sua cartinha para eu lhe dizer daquilo que mais preciso. Agradeço-lhe e peço que o senhor acredite que não é por me desprezar de ser pobre e de pedir — pois estou contente por Jesus me assemelhar a Ele até na pobreza — mas não queria dizer-lhe de que preciso. Confio na Providência que não deixará de tocar nos corações generosos para me darem aquilo de que eu necessito. Não quero pedir nada para que não haja más interpretações sobre a causa de Nosso Senhor. Todos nós temos quem nos queira mal, e eu tenho muito medo do demónio. Coisas da terra, mal sei pedir e desejar a não ser quando à vista de olhos vejo serem úteis e indispensáveis. Os bens do Céu são o que nos convém: é o que levamos para a eternidade».

Padre Humberto Pasquale, Deolinda e a Alexandrina

A carta, repassada de prudência, documenta diversos factos: que a Alexandrina encontrou pessoas amigas compadecidas da sua grande pobreza; que, colocada perante a possibilidade de escolher entre dons de coisas terrenas «mal sabe pedir e desejar a não ser o que é útil e indispensável»; que, no referente a coisas terrenas, «se entrega completamente à Divina Providência», a qual não ignora aquilo de que necessitamos; que a sua vida é totalmente orientada para aqueles bens «que levamos para a eternidade».
Por isso, mesmo quando as pessoas amigas forneceram à doente tudo quantio lhes pareceu necessário, ela não faltou à virtude de pobreza. Aceitou-a e amou-a quando lhe faltava tudo, praticou-a com predilecção quando, por assim dizer, se viu rodeada de uma certa abastança.
A Sra. D. Maria Cândida Leite Reis Almeida afirmou o seguinte: «A Alexandrina amou a simplicidade e a pobreza. Por vezes oferecia-lhe peças de vestuário do seu uso diário, lençóis, colchas que ela aceitava por boa educação e gentileza, mas usava sempre o que fosse mais simples».
A Sra. D. Maria José Neves Correia e Silva, de Sertã, escreveu-nos: «Tudo era pobre à sua volta: a sua cama e o seu quarto modestíssimos, mas muito limpos, espelhavam a brancura da sua alma, e pouco a pouco este quartinho foi-se transformando em capela em que o altar era o leito de dor sobre o qual a vítima tão generosa se imolava, dia e noite, pelos pecados do mundo».
A fineza da sua alma nunca lhe permitiu equivocar-se quanto à natureza da pobreza e abandonar-se a excessos. Costumava dizer: «Pobre sim, mas suja não! Não envergonha um vestido remendado mas limpo!»
Ao segundo director espiritual dizia: «Gostava de tudo perfeito e asseado, mesmo quando doente. Tinha nojo do que estava sujo, e fazia limpezas, as mais custosas, porque alegrava-me de ver tudo limpinho».
«O asseio dela e do quarto era esmerado, mas na maior simplicidade — diz a Sra. D. Maria Teresa Vasconcelos, de Penafiel. — Usava certas roupas por respeito para com os benfeitores».
Ao perguntarmos à Deolinda se tinha notado na Alexandrina qualquer pontinha de vaidade, respondeu textualmente: «Vaidosa minha irmã? Não! Ela gostava de estar sempre limpinha e asseada, embora a roupa fosse velhinha e remendada. Dizia também que não sabia compreender que Nossa Senhora fosse desmazelada quando ouvia dizer que nem paninhos tinha para embrulhar o Menino Jesus, ou que Ele tivesse apenas um vestidinho. Costumava repetir “Pobre sim, mas limpinha!”»
O Rer. Pe. Adelino Pedrosa, de Esposende, escreveu esta linda afirmação: «Nunca lhe percebi a menor preocupação pelas temporalidades. Sempre desprendida, nas mãos de Deus. Estaria sempre no fundo de um calaboiço, abandonada de todos».
A Sra. D. Maria Sommer de Andrade, numa carta ao segundo director, escreve: «Também admirei, naquela casa, a autêntica pobreza em que viviam! E era tão fácil abrir a mão a rios de dinheiro que chovem ou querem chover, sempre, em casos deste género. As roupas que ajudámos a lavar, passajar e engomar, as louças e alimentação eram bem prova disso».
Rosa Ferreira da Silva, uma velhinha de 80 anos que conheceu bem a Serva de Deus, dizia-me com as lágrimas nos olhos: «Não era gananciosa a Alexandrina! Pessoas havia que lhe ofereciam dinheiro, e não foram poucas; pois ela, só aceitava perante a insistência dessas pessoas e usava-o para fazer bem».

A Deolinda confirma o testemunho dos estranhos, dizendo: «Nos últimos anos, já teve muita roupa para a sua cama, mas sempre usou amais velhinha. Às vezes eu queria pôr-lhe a nova, mas ela dizia: “Guarda-a, guarda-a para ti. Um dia ficarias sem nada” — Quantas vezes me lembro desta recomendação da minha irmã! Parecia prever o que se daria mais tarde, isto é, quando fui obrigada, por quem de direito, a guardar como relíquia toda a roupa usada por ela».
(Padre Humberto Pasquale: "Eis a Alexandrina")

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