quarta-feira, novembro 27, 2019

ALEXANDRINA EXPLICA...


Meu Paizinho,
Então, quer Vossa Reverência que eu lhe diga quando foi que senti mais vivamente Nosso Senhor? Estou pronta a fazê-lo o melhor que souber. Esta união íntima com Nosso Senhor comecei-a a sentir poucos dias depois da estadia de Vossa Reverência aqui, por ocasião do tríduo em Rates. Foi pouco mais ou menos a 5 de Setembro do corrente ano. Desse tempo até agora tenho tido dias de O sentir mais vivamente do que na ocasião em que o senti pela primeira vez. As carícias que Nosso Senhor me faz são assim: para falar a verdade, eu mal sei explicar o que sinto, quando Nosso Senhor me fala. Parece-me que sinto qualquer coisa que me passa pela cara, mas não são mãos. Além disto, parece que me abraçam, falando-me docemente. Como Vossa Reverência já sabe, pelo que lhe tenho dito, já, durante o inverno do ano passado, eu senti Nosso Senhor, embora não desse nenhuma importância porque ignorava tudo isto. Foi por isso que, na ocasião do nosso tríduo, não falei nisso a Vossa Reverência. Se o apanhava cá hoje, muito teria que lhe dizer! Assim, vou dizendo o que puder, por escrito.
Já fez quinze dias, na quinta-feira passada, que não tornei a ouvir a voz de Nosso Senhor. Penso que não seria por coisa muito grave que eu fizesse a Nosso Senhor. Mas, bem sabe que eu não sou mais que miséria; tenho-me resignado o mais que tenho podido; não digo que não tenho momentos de desânimo, mas confio em Nosso Senhor, que há-de tornar a falar a esta miserável pecadora, porque Ele não pode faltar àquilo que promete. Senti-Lo, parece-me que já algumas vezes o tenho sentido, mas falar não; espero até quando for da Sua S.S. Vontade. Nessa mesma quinta-feira, dia 8, das quatro às cinco horas da tarde, mesmo sem estar a rezar, senti um calor enorme, parecia-me que me abraçavam e depois ouvi dizer assim:
— Minha filha, és um trono adornado com o teu Jesus, com o teu esposo, com a S.S. Trindade, sim como o Padre, o Filho e o Espírito Santo. Que beleza a da tua alma! Escolhi-te para tão alto cargo.
Assim como Ele me adornava a minha alma, queria que eu adornasse os sacrários com o meu amor, com as minhas orações e com a minha presença de espírito.
— Pede-me pelos pecadores: Eu preso e tão desprezado. Eu preso e tão ofendido e tão horrorosamente escarnecido. Sabes o que tem valido a esses infelizes, são as almas que eu escolhi para reparar. Se não fosse isso, onde estavam esses desgraçados. Desgraçados, sim, pois se não se convertem são condenados eternamente.
Prometeu-me Nosso Senhor que me voltaria a falar naquela noite, e assim foi: das 10 às 11 horas da noite. Parecia-me sentir os efeitos de Nosso Senhor em minha alma mas não ouvia a Sua Divina Voz. Pensava que ficaria só assim e que eu nem tanto merecia, mas sempre me lembrava que se fizesse a Vontade de Nosso Senhor. Mas principiei por ouvir que me falavam, mas parecia-me que era uma coisa diferente, mais forte do que o costume, e dizia-me:
— Nem te fala, nem te tem falado, nem te falará; andas a enganar o teu director.
Tomei água benta e disse como costumo fazer em casos semelhantes: Ó meu Jesus eu não vos quero ofender e formo minha intenção de ser por não duvidar nem por dizer coisas que assim não sejam. E então falou-me Nosso Senhor:
— E queres consolar-me? E queres consolar o Santificador da tua alma? Sabes quem é? É o teu Jesus, anda para os meus sacrários. Anda passar algumas horas da noite à sombra dos meus sacrários. Passarão como a voar, anda praticar uma obra de misericórdia. Anda consolar os tristes. Estou tão triste! Sou tão ofendido. Anda para o teu cargo, sofrer, amar e reparar!
Depois um forte calor me abrasava e dizia-me Nosso Senhor:
— Estou contigo, sou o teu Jesus, o tudo da tua alma.
E disse-me que o demónio estava raivoso mas que o não deixaria vencer-me.
Tenho dias em que o demónio me consome muito, trazendo-me à cabeça coisas tão fracas e tantas e tantas dúvidas, que, se não fosse a muita bondade de Nosso Senhor, e quem sabe, as orações de Vossa Reverência já ele me teria vencido.
Cá tenho pedido muito pelos pecadores que Vossa Reverência me tinha recomendado e, agora mais particularmente, por esse que me disse que vive em muito perigo de pecar. Por ele, tenho oferecido muitos dos meus sofrimentos, apesar de ser muito indigna de receber favores de Nosso Senhor.
Adeus, por hoje. Por caridade, não me esqueça junto de Nosso Senhor, que eu, também, todos os dias me ofereço a Nosso Senhor para que Vossa Reverência participe em todos os meus sofrimentos e orações. Muitos cumprimentos da minha mãe, da Deolinda e da Dª Conceiçãozinha.
Alexandrina Maria da Costa.

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