Balasar, 8 de Fevereiro de 1939
Viva Jesus!
Meu Paizinho,
Quero primeiro agradecer a boa cartinha que me
escreveu. Estimo-as tanto! Não é tanto pelos rápidos momentos de alívio que me
dão, mas sim pela coragem que me infundem, e pelos santos conselhos que me dá.
Que o meu amantíssimo Jesus se digne recompensá-lo do grande sacrifício que faz
para me escrever.
Ai, meu Paizinho, parece que nem posso
respirar com a tristeza, e penso que me esmagam. Em mim tudo são escrúpulos e
dúvidas. Que triste viver. Por mais que o meu Paizinho e o meu Jesus me digam
que estas coisas não são feitas por mim, estou sempre na dúvida, sempre ruim e
tímida.
Se o meu Jesus me alcançava a graça de eu me
convencer que não sou eu que faço e digo tantas coisas, que grande consolação.
Mas não digo bem porque não sofria: e eu quero sofrer até morrer. Quero só
sofrer sofrendo e sofrer amando. Meu Jesus, que horror eu ver o abismo
incomparável das minhas misérias e o meu Jesus não ter nojo de habitar nesta
imundice e acariciar-me, dizer-me coisas tão lindas, é o que me faz duvidar,
quase me leva ao impossível. Parece-me que até tremo e o meu coração, se desfaz
de dor.
Ai, meu Paizinho, ai da pobre Alexandrina.
O demónio continua a tentar-me e a chamar-me
coisas feias. Mas ele tem razão: porque eu vejo que se não fosse o meu Jesus
sustentar-me, eu era tudo o que ele diz, ou pior ainda, se por acaso houver
coisas piores. Ainda há pouco ele gritava cheio, de raiva: “és condenada, estás
condenada”. E eu cheia de dúvidas, e com isto mais aflição me fazia.
Mas no mesmo instante, muito no íntimo da
minha alma, ouvi uma voz que me falava tão docemente: “não estás condenada,
estás salva. És minha, o Céu é teu com toda a sua glória. Tu és toda e só de
Jesus.”
Ai, meu Paizinho, nestes momentos não duvido
que é o meu Jesus. Dá-me tanta paz! Mas como são rápidos estes momentos: como
volto tão depressa ao mesmo sofrimento!
Meu Paizinho, eu sou tão má! Eu não posso
prender o meu coração a nada. Quando faço esforço e me ponho, por alguns
momentos, a fazer o meu exame de consciência e vejo como faço as minhas poucas
e pobres orações, desculpo-me com o meu Jesus e digo-lhe que não posso melhor:
mas prometo-lhe esforçar-me por as fazer melhor. Mas, ai pobre de mim: não faço
nada, estou sempre na mesma, senão pior.
Que há-de ser de mim, meu Paizinho? Nosso
Senhor é tão mal servido por mim! Eu não tomo emenda de vida! Mas eu quero amar
o meu Jesus e a minha querida Mãezinha: Amo-Vos, Amo-Vos tanto até morrer de
amor. Mas não sei o que há-de ser de mim, cada vez me sinto mais desviada e
fugitiva de Jesus e de Maria: Ai, se eu os amasse com todo o amor do Céu e da
Terra! Se eu possuísse todos os corpos para oferecer ao meu Jesus para Ele os
crucificar, e todos os corações para o amar, como eu era feliz!
Adeus, meu Paizinho, estou tão cansadinha! Não
posso mais. Ansiosa fico, esperando ou no domingo ou na segunda; seja como
Nosso Senhor quiser. Nosso Senhor estes dois dias tem-me continuado a falar. O meu
Paizinho quando vier verá. Algumas coisas referem-se ao meu Paizinho.
Peço o favor de me recomendar ao Senhor Padre.
Lembranças da minha mãe, de Deolinda e da Çãozinha.
Perdoe, por caridade, e abençoe a mais indigna
filha, a pobre Alexandrina.
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