O Artista divino não cessa de trabalhar em ti...
Hoje com o mesmo punhal seguiu comigo as tristes ruas da amargura. Levava no meu a lança e o Coração da Mãezinha com as espadas. Seguimos os três a amargurada e negra viagem. No alto da montanha, ao pé da cruz, fui despida. Sentia todo o corpo chagado e a essa chagas colados os vestidos; saíram com eles pedaços de carne. No cimo da cruz, continuamos os três a mesma dor. Senti que Jesus queria levar o Seu divino Coração, aberto pela lança do amor, a cada alma, que estava no Calvário e em toda a Humanidade, para lhes dar nele entrada. Ele via que não Lhe era aceite a Sua oferta, por isso a agonia aumentou. Cerrou os Seus divinos olhos e dizia: vou morrer, aproveitai-vos do Meu divino Sangue, da minha morte se quereis salvar-vos; morro para dar-vos o Céu. Isto foi dito momentos antes de expirar. E, na maior agonia por ver tanto sofrimento inútil, expirou. Sem O ouvir, sem O sentir, estive morta com Ele. Veio, falou-me, deu-me vida.
― Coragem, Minha filha. Eu venho a ti dar-te a vida do corpo, dar-te a vida da alma, confortar-te, levantar-te e desabafar contigo. Confia em Mim, confia no que te digo, se não queres desgostar-Me. A vida que vives, a vida que sentes, não é tua, á a Minha vida divina, é a vida do mundo. Tu, és Minha filha, a partir de todos os martírios; és a Minha maior vítima, experimentas todos os sofrimentos. O Artista divino não cessa, um momento, de trabalhar em ti. Quando Eu , ontem, despreguei da cruz os Meus divinos braços para te abraçar, não era porque estivesse na cruz; na cruz estavas tu. Eu vim confortar-te e provar-te que se não estives tu, estava Eu crucificado. É assim que deves sofrer e amar. Aceitas, continuas contente a estares sempre na cruz? Responde-Me, quero ouvir-te.
― E Vós, meu Jesus, continuais a auxiliar-me, a sofrer em mim? Se assim continuais, também eu continuo. O que eu quero é fazer a Vossa divina vontade, amar-Vos e dar-Vos as almas, mas temo a minha imensa miséria.
Jesus conservou-se, por um espaço de tempo, calado. Eu fiquei a viver Dele.
― Minha filha, essa vida de miséria é a vida do mundo. A terra que cavas, a sepultura que abres é o mesmo mundo a sepultar-se na sua perda eterna. O que sentes em ti a desfazer-se são as almas desfeitas pela lepra do pecado. Minha filha, Minha filha, as praias, os cinemas, as casas de jogo e de perdição, as vaidades, e imodéstia, as ambições, enfim todos os vícios é essa a podridão que cavas e a que abres a sepultura. Pobre Humanidade a sepultar-se! Pobres vítimas a imolarem-se! Pobres para os olhos do mundo, mas ricas, eternamente ricas para Mim.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 25 de Julho de 1947 - Sexta-feira)
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