A minha alma chora e o coração anseia
Passo o dia, vem a noite, e eu vazia, sem nada ter dado a Jesus e sem nada ter para Lhe oferecer. Não posso examinar a minha consciência. Um dia, um mês, um ano e outro ano, sempre a sofrer, e sem ter que dar e sem amar o meu querido Jesus. Que pobreza, que miséria! De cada vez mais vazia, de cada vez mais defeitos. Ó meu Deus, poderei eu dar-Vos menos do que Vos tenho dado? Oh! Não; sei que não, e não tenho mais, não sei mais nem melhor. Ai, pobre de mim, a minha cegueira só me mostra miséria e maldade; e para melhor eu ver esta maldade, sinto-me, por vezes, tão sábia, capaz de enganar toda a gente com a minha sabedoria. Sinto-me até vaidosa por saber e poder enganar toda a gente. Que horror, ó meu Jesus, que horror! Se eu quiser enganar! Se eu pensasse em enganar! Mas nem ao menos isso. É pela graça de Deus que não o penso nem faço. Mas oh! que doloroso martírio, ver e sentir tudo isto em minha alma! Poderei vencer? Poderei passar assim os meus dias, ó meu Jesus? O que seria ou será de mim sem a graça e a protecção do Céu! Sou tão miserável e cheia de defeitos, sou um nada capaz de todas as maldades, sou um nada incapaz de fazer algum bem.
A minha alma chora e o coração anseia, quer só pertencer a Jesus, quer dar-se a Ele, perder-se Nele.
Passei quatro dias sem O receber. Que fome indizível! Que ânsias insuportáveis! Quantas vezes voava em espírito para junto da Eucaristia e Lhe dizia: Jesus, meu Amor, vinde a mim, estou a morrer de fome, desfalece-me a alma e o corpo; vinde, vinde, enchei-me e operai em mim tantas graças como se Vos recebesse Sacramentado. Nestes momentos, ficava a nadar num mar de paz, mas sempre com as mesmas ânsias e fome devoradora. Não sei; sinto que só no Céu posso ser saciada de Jesus; aqui, na terra, por mais que corra e voe para Ele, mais vazia me sinto e mais Ele me foge. Eu já não vivo, de mim ficou a dor, essa é a que eu sinto, mas nem essa agora me pertence. Ah! Se eu amasse ao menos O meu Jesus, e se nunca O ofendesse! Eu não sei, mas sinto que Jesus deve estar muito desgostoso comigo; não Lhe dei, com certeza provas de toda a minha confiança Nele.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 26 de Setembro de 1947 - Sexta-feira)
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