Tive a visão de Jesus na coluna
O pobre do meu corpo continua a ser, ora numas horas, ora nas outras, um esqueleto, caveira, chagas, espinhos, setas, dor e sangue. O que é a minha dor, só Jesus a compreende. E isso basta. Que Ele ma aceite para reparação Sua.
Tive a visão de Jesus na coluna, a ser açoitado num enorme madeiro, crucificado. Nunca O vi em cruz tão grande. Quase da altura Dele, cruzada uma sobre a outra estava a lança e a esponja; cruzavam contra o seu santíssimo peito. Tanto do alto da cruz como da coluna a ser açoitado, das suas feridas, das suas divinas carnes despedaçadas saíam raios mais brilhantes do que o sol. Eram tanto sóis quantas as feridas de Jesus. Tudo em mim e à volta de mim era escuridão. Só a luz, só o sol de Jesus brilhava. Meu Jesus, seja o meu corpo açoitado, seja eu, sempre eu pregada na cruz. Gozai na vossa glória, aceitai todo o louvor que Vos pode dar a aterra e o Céu. Sou a vossa vítima.
A visão de tais sofrimentos levou-me ao Horto. O céu parecia faiscar e combatia com a terra; o solo tremia com suas árvores e folhas. No meio da noite negra e silenciosa, Jesus ali agonizava. Vi-O beber, beber o cálix da amargura até à última gota. Passaram-se já tantas horas e eu ainda sinto aquela dor e como se Ele ainda estivesse a beber na mesma amargura. Assim segui hoje o Calvário, curvada com Ele sob o madeiro da cruz, ardia no mesmo fogo, sofria a mesma sede de dar a vida. Que angústias as do coração e da alma! As carnes e o sangue ficavam nas ruas da amargura. Que desfalecimento! A vida fugia, o Calvário não chegava. Do Céu não vinha uma luz nem um conforto; só a raiva humana com mais crueldade descarregava sobre Nós nova chuva de açoites. Os suores corriam pelo rosto de Jesus, assim como corria o sangue das feridas dos espinhos. Não posso pensar no esforço que fazia o meu amado Senhor para Se manter de pé, junto ao lugar onde ia ser crucificado. Vi a sua sacrossanta cabeça com o rosto moribundo inclinar-se para a terra. Fomos os dois crucificados, mas não sei como, não era o meu sangue que corria das chagas, era o de Jesus, e corria dentro de mim. Senti abrir-se-me o lado e ir a lança lá dentro atravessar-me o coração; foi como uma espada finíssima aquele corte, ficou sempre vivíssimo em todo o tempo da agonia assim como o amargor do fel. No coração senti todo o ferimento de Jesus e o abrir dos seus divinos olhos ao entregar a alma ao seu Eterno Pai.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 12 de Setembro de 1947 - Sexta-feira)
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