segunda-feira, outubro 03, 2011

A MINHA SEDE É INSACIÁVEL !

Que ânsias tão fortes de Lhe dar almas!


Quanto mais corro, mais me foge Jesus, e foge-me com Ele o Seu divino amor. Quero amá-Lo, e não amo; morro por Ele, morro pelas almas. A Ele não O consolo, não O amo; as almas não as conquisto, não consigo trazê-las ao Seu divino Coração. O que hei-de fazer, meu Jesus? A quem hei-de procurar e amar, senão a Vós. É tal o desejo que tenho de dar almas a Jesus, ainda mesmo depois da minha morte, que, não podendo conter-me, escrevi por minha mão o seguinte: levei a minha vida a sofrer, e levarei o meu Céu a amar e a pedir a Jesus por vós, ó pecadores. Convertei-vos, e amai a Jesus, amai a Mãezinha. Vinde vamos todos para o Céu. Se sentísseis, por algum tempo, os martírios, que por vós sofri, estou convencida que não pecáveis mais; e, se conhecêsseis o amor a Jesus, então morreríeis de dor, por O terdes ofendido. Não pequeis, não pequeis, Jesus criou-nos, Jesus é Pai. Isto mesmo eu queria gravado em letras, à volta da minha campa, para comover, para chamar os pecadores a Jesus. Que ânsias tão fortes de Lhe dar almas!
Quanto mais faço, menos sinto fazer, e menos sinto amá-Lo. A minha sede é insaciável. Não cessa de chorar a minha alma; não há luz para o meu espírito; as minhas alegrias são morte. Tenho tanto quem procure aliviar-me, consolar-me! E tudo isso, que eu recebo como mimos do Céu, morrem sem que chegue a saboreá-los. Bendita seja a divina vontade de Jesus!
O demónio serve-se destes mimos, deste conforto que desejam dar-me para atormentar horrorosamente a minha alma. Como pode Deus a uma vida tão falsa, tão cheia de maldades, mimosear assim? É já a recompensa na terra; para outra vida é o inferno, é a perda eterna. Eu ando a cavar, a abrir a minha sepultura. O terreno é que eu o abro, é falso, é nojento, cheio de podridão; é terreno, é sepultura mundial. Que horror! Trabalho sem luz, cavo, e eu própria a desfazer-me na mesma cinza, na mesma terra podre e nojenta. Sinto, como se tivesse alguém dentro de mim, em lágrimas, num só suspiro, numa tristeza sem igual. Ao observar toda esta podridão, vou sentindo sempre o corpo ferido, a cabeça cingida de espinhos, as chagas abertas e a do coração sem nunca lhe tirarem a lança. Veio unir-se a este meu pobre coração o da querida Mãezinha, cheio de setas. Como Ela sofre! Sinto-o bem. O Seu Santíssimo Coração não se separa do meu; tenho assim de sofrer com Ela. Que doloroso martírio o do meu corpo e da minha alma! Quantas vezes desfaleço e sinto não poder resistir a tanta dor.
Ontem, com todo este sofrer e a visão do Horto estava desolada e sem nenhuma vida. Senti e vi com os olhos da alma Jesus em tamanho natural, cravado na cruz e dela desprendeu os Seus Santíssimos braços para me abraçar; ficou preso à cruz só pelos cravos, que Lhe cravavam os pés. Com este abraço de Jesus levantei-me, fiquei com a alma mais forte. Veio a hora da ceia. Vi Jesus sentar-se à mesa com os Seus Apóstolos e ao sentar-se falou para Si o Seu divino Coração. Manjar divino; a ceia do Meu amor. Todo o aposento se iluminou e todos os Apóstolos ficaram embebidos naquele amor, que Jesus irradiava pelos Seus divinos olhos, lábios e todo o Seu ser, porque todo Ele era amor. Só Judas desesperado, com o demónio nele e o fogo infernal, já não recebeu o amor de Jesus. Como Ele amava, sofria e sorria! Como via tudo o que O esperava. Dali fui para o Horto; senti o romper das veias, as lágrimas de sangue, toda a agonia. Quando Jesus foi preso, vi Judas em atitude desesperadora a cravar no Coração divino de Jesus, que estava dentro em meu peito um grande e agudíssimo punhal. Por aquela grande ferida saíam raios doirados. Com o punhal cravado e a espalhar amor, assim foi Jesus para a prisão.

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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 25 de Julho de 1947 - Sexta-feira)

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