Eu não tenho querer...
Estou cansada de tanto dizer da minha vida. Não poderei, Jesus meu, ocultá-la e escondê-la para todos, todos, para que ninguém saiba de mim e do que em mim se passa? Deitai-me a Vossa divina mão, meu doce Jesus; eu não posso levantar-me; que tristeza tão profunda me invadiu o coração! Ai, Jesus, saber-se a minha vida e eu sem ter querer nem vontade, sentir a necessidade de desaparecer! Se pudesse apagar-se toda a minha vida sem prejuízo da glória de Jesus e bem das almas! Ai tantos espinhos na minha cabeça e no meu coração! Que chuva de sangue eu sinto e vejo cair das feridas por eles causadas! As chagas estão abertas; sinto que elas se têm aberto e alastrado tanto; parece-me que o coração, as mãos e os pés já não têm lugar para maiores aberturas. O que eu sofro! O que sente a minha alma! É tal o medo e cansaço que sinto por ter de dizer as coisas da minha vida, que me sinto morrer, e tenho que morrer. E eu que não tenho querer, nem posso ter querer, não queria morrer desta forma.
— Meu Jesus, não sei dizer melhor; estou tão ceguinha, nada vejo e nada sei dizer. Ó minha cruz, minha amada cruz, quanto eu te quero! O que vejo eu na minha cruz? Vejo amor, mas amor sem limites, um amor sem igual; e vejo a dor, mas uma dor que encerra todas as dores; é um conjunto de dores. E eu abracei a minha amada cruz, e este abraço foi eterno. Sinto, como se ela uma vez ou outra me escapulisse dos ombros, mas é por me parecer não poder mais; sinto deixá-la cair por vontade. Isto é o meu desfalecimento. Eu quero-a, eu amo-a o meu abraço eterno está dado. Sinto o coração tão preso a ela que não pode separar-se; é cruz e coração, é coração e cruz, é uma só coisa; amor, dor e cruz, é minha, quero-a por Jesus e pelas almas. Jesus quero desabafar; é neste papel que eu desabafo; vou à procura do que não encontro, procuro e não acho, quero alívio, anseio por ele sem conseguir encontrá-lo, fico na minha dor, é a minha cruz. Ela está tão gravada no meu corpo, sinto que todo ele é cruz, chagas, espinhos e sangue.
No domingo, dia 10, logo que recebi o meu Jesus, por um bom espaço de tempo, senti-me como se adormecesse Nele e Ele em mim; não ouvi a divina voz de Jesus, mas oh! que sono tão doce! Depois de acordada, fiquei com a alma confortada, mais forte para a dor, que horas depois, caiu sobre mim, a pontos de eu não a poder encobrir. Pobre de mim, sem conforto!
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 15 de Agosto de 1947 - Sexta-feira)
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