— Perdoai-lhes, meu Jesus!
Estou sempre a ser açoutada com as mesmas
varas de espinhos; descarregam-nos sobre mim com toda a crueldade. Nada existe
em mim que não seja ferido por eles. E a morte avizinha-se, e os homens não se
apressam a dar-me o meu paizinho. Que tristeza! Não sabem o que é a dor. Não
sabem quanto valem as luzes e conforto para uma alma.
— Perdoai-lhes, meu Jesus, eu espero em
Vós, confio nas Vossas promessas divinas.
Durante esta noite, não sei se ainda era ontem
ou se já pertencia a hoje, veio o demónio, veio desesperado, veio com todas as
suas maldades, atormentou-me fortemente. Pegou o fogo e deixou em mim as suas
manhas e, para disfarçar que não era ele, pôs-se ao largo. Só depois de eu
muito lutar e de me parecer que tinha ofendido o meu Jesus tão gravemente é que
ele se aproximou novamente a cobrir-me de insultos e a dar-me a afirmação de eu
ter pecado. Estava num lago de suores na posição mais violenta que podia estar.
Debaixo de mim um medonho abismo e muitos demónios em forma de esqueletos e de
animais ferozes a atormentarem uma massa que lá estava. Ó meu Deus, que horror!
Não podia falar nem gemer nem dar o mais
pequeno movimento ao meu corpo. Pensei:
— Se me não valeis, meu Jesus, morro
aqui. Valei-me, valei-me, vinde em meu auxílio.
Serenou tudo.
Passados uns momentos, ouvi Jesus a dizer:
— Anjo celeste, anjo bendito, anjo que eu
escolhi para guardares, guiares e amparares a minha vítima amada. Levanta-a,
leva-a ao seu lugar.
No mesmo instante, sem me causar o mais
pequeno incómodo, fiquei na minha posição. Mas logo em dúvidas e grande agonia.
Sentimentos da alma, 8
de Março de 1945
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