Seja feita a Vossa vontade
— Minha filha, a tua reparação, as raízes fortíssimas do teu amor arrancam deste medonho abismo as raízes do pecado das almas que nele estão. Vêm subindo para mim, embora caiam, não voltam a cair tão fundo, caem para se levantarem e, a pouco e pouco, ficarão firmes. Coragem, filhinha! Não tens nisto consolação?
— Meu Jesus, não tenho outra senão a de Vos ter consolado. E Vós estais?
— Muito, muito, minha pomba bela. Espremo, espremo o meu cachinho de uvas, consolo-me, delicio-me nos preciosos licores que ele me dá. Chupo tudo para minha consolação e alegria, tudo aproveito para as almas. É por isso que não te dou alegria nem consolação com a presença daqueles que ta podiam dar, privando-os a eles de se consolarem e alegrarem de te verem alegre e consolada.
— Obrigada, meu Jesus, seja feita a Vossa vontade.
Horas depois, voltou o demónio, principiou com as mesmas manhas e actos feios. Logo que o pressenti, ofereci-o a Jesus em reparação pelas almas que Ele me pediu. Fi-lo depressa, enquanto o maldito mo deixava fazer. Quase nos mesmos momentos, dizia:
— Jesus, Jesus, não quero pecar.
No mesmo instante, repetia em mim sem eu querer:
— Quero, quero pecar, quero o prazer, quero gozar.
Imediatamente, voltava a dizer:
— Jesus, Mãezinha, valei-me, não quero ofender-Vos.
Logo repetia, sem minha vontade:
— Quero ofender-Vos o mais gravemente.
Pobre de mim, parecia-me estar toda, toda entregue a Satanás, toda em ânsias de satisfazer paixões. O meu coração já não podia com tanta luta. O meu corpo não era cinza, não era outra coisa a não ser dor, dor que só pode ser conhecida por quem a experimentar. Parecia-me que o demónio tinha realizado os seus desejos. Voltei a chamar por Jesus. O maldito dizia-me:
— Chama-O agora, depois de satisfeita, depois de teres pecado.
Veio Jesus, colocou-se ao meu lado, não fez outra coisa senão levantar a sua bendita mão à frente de Satanás; deu-lhe sinal de paragem, e, imediatamente, cessou o ataque, e o maldito fugiu.
— Ó meu Jesus, em que agonia me preparei para Vos receber. Que grande confusão a minha. Que vergonha ao dar-Vos entrada no meu coração. Não posso pensar na Vossa bondade infinita.
Durante o dia, surgiram-me espinhos dum lado e do outro. De boa vontade, sem tentar desviá-los, com os olhos em Vós e por amor às almas, todos deixei cravarem-se em meu coração. Ou sofrer ou morrer. Se não consolo o meu Jesus, se não salvo almas, que estou aqui a fazer, para que serve a minha vida? Para nada, nada.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 26 de Fevereiro de 1945)
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