Fui condenada, tomei a Cruz…
De noite ainda, sem me lembrar o dia que era, lembrou-mo a minha alma. Senti-me na prisão, muito triste, sozinha, cansada e em grande abatimento. Sofria por me terem vendado os olhos, sofria por tanta ingratidão. Principiei a minha preparação para receber a visita do meu Jesus. Durante a preparação, já de dia, foram buscar-me à prisão. O meu rosto, sentia nele grandes escarros. Cá fora esperavam-me grandes multidões de gente. Meu Deus, o que ouvia de gargalhadas. De rua em rua, de casa em casa, no meio de grande algazarra, coberta de maus-tratos e interrogada por senhores absolutos, cheios de soberba, convencidos de que tudo podiam fazer. Em frente de tanta grandeza, oh! como eu era pequenina! Fui condenada, tomei a cruz; inclinada debaixo do seu peso, já quase só de rastos podia mover-me. E quantas vezes fui eu arrastada. Ai quantas lágrimas senti passarem-me no meu coração. Ao ser tratada tão cruelmente, repetia muitas vezes o coração: “amo-Vos, sofro por Vosso amor”. Levava a cruz e no cimo do calvário via a de Jesus; era um farol que entrava dentro em meu peito a iluminar tudo. Sentia-me atraída para ela; para a abraçar, para a possuir, ia caminhando. Cheguei ao calvário, estenderam-me nela. Quando me esticavam os braços e pernas para serem cravados, quando sentia que das feridas dos cravos corriam fontes de sangue, veio o demónio para mim, a correr desastradamente; veio redobrar o meu sofrimento. Disse-me que íamos gozar por palavras feiíssimas e depois calou-se, deixando-me a lutar com as suas falsas artes. Eu, cravada na cruz de pés e mãos, sem poder mover-me. Ai quanto sofri. Não podia lutar; fitava o meu Jesus crucificado.
— Meu amor, sofro por Vosso amor. Meu amor, sofro para Vos dar almas. Valei-me, Jesus, tende dó de mim. Mãezinha, eu não quero ofender-Vos.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 2 de Março de 1945)
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