Morro vítima do Vosso amor
Jesus disse-me que o demónio viria em algumas noites com dois ataques e logo na primeira noite ele não faltou: foram dolorosos. Atormentou-me tanto e por tanto tempo! Vi o inferno e nele uma chuva de almas. E tantos demónios, não tinham conta. Dizia-me coisas tão feias, um que era o senhor deles todos. Sentado numa bancada de delícias, como ele lhe chamava, dizia as palavras mais feias e maliciosas. Tanto queria recorrer ao céu e só tarde o consegui fazer. Ele dava-me a afirmação de me levar ao prazer, ao pecado, à ofensa a Deus. O primeiro ataque ofereci-o a Jesus em honra da chaga do Seu santíssimo ombro e para reparar pelo sacerdote, como Jesus me pediu. Quando eu dizia a Jesus que era pelo sacerdote, então é que o demónio se enraivecia contra mim. Senti a dor, dor mortal, que já expliquei. Sem poder resistir a ela, disse:
— Morro, morro, Jesus. Se morrer, morro contente, morro vítima do Vosso amor, morro vítima daquela alma.
Ao dizer isto, uma aragem passou por mim, colocou-me nas minhas almofadas. Horas depois, ofereci o segundo combate em honra das cinco chagas de Jesus por uma das outras almas. Quando me parecia estar sem vida, num cansaço indizível, ouvi Jesus dizer:
— Anjo bendito, suaviza a dor da minha esposa querida, coloca-a no seu lugar. És, à minha ordem, o seu enfermeiro celeste.
Fiquei libertada das artes manhosas de Satanás e direitinha sobre as minhas almofadas. Não sinto mãos, mas sim um enlevo fofo, uma frescura suave. Fiquei em tanta amargura, na tristeza mais profunda. Se houvesse um lugar onde eu pudesse esconder-me de Jesus, fugiria para lá. Ó meu Deus, que vergonha! E quando Jesus veio para eu O receber! Ansiava pela Sua vinda, mas queria fugir e desaparecer-Lhe; não era digna de O receber em meu coração. Já ofereci mais três combates a Jesus, pois só Lhe ofereço os mais dolorosos. O maldito aparece-me em formas de bichos e feras tão desconhecidas! É horroroso vê-los à minha frente. Um em forma de crocodilo, só mais alto do que eles; tinha uns poucos de metros de comprido. E o inferno com umas cabanas tão feias, tão medonhas! Fogo, um fogo tão escuro e atormentador. Por entre ele tantos cornos de demónios a sobressair. Ele dizia-me coisas tão feias. Que vergonha ao eu ouvi-las e que medo de as ouvir. No auge da minha aflição, bradei por Jesus, porque a dor atormentadora tirava-me a vida.
— Morro, morro, Jesus, e não quero pecar.
O meu coração dava estalos estrondosos, só a morte podia causar tão grande sofrimento. Ao meu brado de agonia, veio Jesus.
— Não pecas, não morres, minha esposa amada. A morte que sentes não é real, a tua morte dá a vida, vida de pureza, vida de amor. Se soubesses o valor desta reparação! Levanta-te, toma o teu lugar, sou o teu Jesus, tenho poder para o fazer, assim como tive poder para mandar levantar e caminhar os mortos.
Já nas minhas almofadas, Ele estreitou-me ao Seu Divino Coração, acariciou-me e beijou-me.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 123 de Fevereiro de 1945).
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