Uniram-se os nossos corações na mesma dor.
— Quanto sofro, meu Jesus. Sede a minha força. Só Vós sabeis o sacrifício que faço para ditar o que em mim se passa. Este esforço parece arrancar-me tudo o que tenho dentro em mim. Servi-Vos dele para arrancardes ao demónio todas as almas. Faço sacrifício por não poder e faço-o por revelar os segredos da minha alma. Gosto tanto de sofrer sozinha, em silêncio, encobrindo o mais possível as minhas mágoas. Ó meu Jesus, quanta dor abafada, quantas lágrimas escondidas. Perdoai-me a minha falta de eu hoje exclamar: “ó meu Jesus, não acabam as sextas-feiras! Se eu pudesse fugir delas e esconder-me, para não passarem por mim!” A Vossa bondade, Senhor, o Vosso amor, meu Jesus.
Logo de manhã cedo, senti tão maltratado o meu coração; a dor, as humilhações espremiam-me, já não tinha sangue para dar ao corpo. Senti o caminho do meu calvário, saiu-me ao encontro a Mãezinha; fitou-me, eu fitei-a a Ela. Uniram-se os nossos corações na mesma dor. A troca dos nossos olhares não se demoraram, tive de caminhar à frente, maltratada, empurrada, arrastada. Mas a dor dos nossos corações não se separou. Era como que dois fios eléctricos que dão ligação um para o outro. Quase logo que cheguei ao calvário, fui cravada na cruz. Que grande tempo de agonia. O sangue corria, as chagas rasgavam-se cada vez mais. As lágrimas da Mãezinha corriam em meu coração. Ela era um farol para mim e eu outro para Ela, farol que dava luz para descobrir todos os nossos sofrimentos. Ainda sem ter expirado, senti que me rasgaram o coração. Essa dor antecipou-se, porque, depois de morrer, não a podia sentir. Quando assim sentia o coração, lancei um olhar ao mundo e disse-lhe:
— É por ti que estou assim.
Veio então o meu Jesus. Senti a entrada d’Ele em meu coração. Sentou-se e inclinou-se a mim e disse-me:
— Minha filha, loucura de amor pelas almas, loucura de amor por mim. És louca pelas almas à minha semelhança. Assemelhei o teu calvário ao meu. A tua vida é vida de Cristo, vive Cristo transformado em ti. Sobes o calvário, porque não posso subi-lo eu agora. Levas a cruz, porque não posso levá-la eu também. És o cordeirinho sacrificado e imolado, dás a vida na maior das agonias, porque agora não posso eu sofrer assim. É revestida de mim que sofres, é comigo que levas a cruz, é comigo que nela expirarás.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 16 de Fevereiro de 1945)
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