quarta-feira, junho 02, 2021

UMA DAS TRÊS FASES DA VIDA DA ALAXANDRINA

Dor amorosa


Por volta do fim do ano de 1935, conclui-se a primeira fase da vida interior da Alexandrina, fase que tivera início — podemos afirmá-lo sem receio de errar — com o uso da razão. Sob o aspecto histórico, nenhuma qualificação mais adequada a este longo período do que a de vida purgativa.

À Deolinda dizia por vezes a Serva de Deus: — Eu não sei recordar o que é viver sem dor. — E a irmã explica o que ela queria dizer: — Há tantos anos que sofro, que já não me posso lembrar de ter tido um dia sem sofrimento.

Recordando a data de 20 de Novembro de 1933, dia em que, pela primeira vez, se celebrou a Santa Missa no seu quartinho, a Alexandrina acrescenta: «Principiou Nosso Senhor a aumentar-me os Seus miminhos, para também aumentar o peso da minha cruz» (Autobiografia).

Numa carta dirigida ao Padre Mariano Pinho (10-X-1935), a Deolinda escrevia : «Aprouve a Nosso Senhor dar a cruz completa à Alexandrina porque, além dos sofrimentos físicos e do abandono em que Nosso Senhor a tem tido e continua a ter, também temos sofrido grandes aflições devido à situação (financeira) em que temos vivido e que contávamos melhorar, mas que grandes dificuldades apareceram de novo. E a pobre Alexandrina, ao ver as nossas lágrimas e ao ouvir os nossos desânimos, fazia por nos consolar e dizia:

— Eu sei que Nosso Senhor ainda queria que eu passasse por mais estas coisas.

E murmurava:

— Õ meu Jesus, eu quero que o meu coração seja esmagado e angustiado, que vá à prensa das Vossas divinas mãos até esgotar-Vos todo o amor, assim como o cachinho vai à prensa para ser espremido, e como a azeitona para dar todo o azeite».

A Alexandrina, porém, voluntàriamente reconhecia as graças extraordinárias e as inefáveis delícias com que — não obstante tudo o mais — tinha sido favorecida. Com efeito, na sua Autobiografia, ela conta que, logo pela manhã, apresentava as suas ofertas a Nosso Senhor, dizendo, entre outras coisas: «Jesus, imolai-me convosco a cada momento no altar do sacrifício ; oferecei-me convosco ao Eterno Pai pelas mesmas intenções por que Vós mesmo Vos ofereceis».

E acrescenta: «Nestas ocasiões, em que fazia estes oferecimentos a Nosso Senhor, sentia-me subir sem saber como e, ao mesmo tempo, um calor abrasador que parecia queimar-me».

É uma dor autêntica a sua, mas uma dor amorosa, porque mitigada por consolações sobre-humanas.(Pe. Humberto Pasquale: Eis a Alexandrina; cap. II)

Na imagem:
A beata Alexandrina e o Padre Humberto Pasquale, sdb.

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