Vi que Jesus vinha como se não pudesse segurar-se, banhado em suor, a escorrer sangue e sem nenhuma beleza. Ao vê-Lo assim exclamei:
― Ó meu Jesus, em que estado Vós vindes! Entrai no meu pobre coração; esta morada não digna de Vos receber, mas já que assim o quereis, entrai e descansai.
― Eu sou a Vossa filha mais pobre e miserável, mas quero cuidar de Vós, quero limpar-Vos as lágrimas e os suores e curar-Vos essas feridas; quero curar-Vos e consolar-Vos, e não sei como. Sou a Vossa vítima. Não Vos digo que aceiteis que eu Vos cure com o meu amor, com as minhas ânsias.
E, com Jesus inclinado sobre o meu peito, fiquei como que a curá-Lo, e a limpar-Lhe o suor e as lágrimas, porque soluçava profundamente. Fiquei como que não soubesse o que mais fazer nem dizer a Jesus, tal era a minha compaixão. De repente vi-O curado, alegre e formoso.
― Alegraste-Me, consolaste-Me, minha filha, já não estou ferido, já Me sinto bem. Sabes quem assim Me maltratou? Foram os sacerdotes, foram os sacerdotes. Obrigaram-Me a descer do Céu à terra, às suas indignas mãos para Me crucificarem em seus sujos corações. Juntaram os seus crimes ao de toda a humanidade ingrata. Se não fossem os teus sofrimentos para quantos já se lhes tinha aberto o inferno e já estavam condenados. Coragem, confia em mim. Dá-Me dor, toda a dor, e não digas que os teus sofrimentos nada valem; valem tudo para as suas almas. Dás-Me tudo que te pedir? Dás-Me toda a dor que te exijo?
― Tudo, tudo, meu Jesus; nada Vos nego. Só Vos peço a graça e a força divina.
― São para o mundo, filha querida; o meu divino coração é amor, só amor, quer abrasá-lo, quer queimá-lo, quer salvá-lo. E é por ti que Eu o abraço, que lhe dou esse amor; e é de ti que Eu Me sirvo para o salvar. Pede, pede oração, pede penitência; diz que é Jesus a pedi-la, diz que é Jesus que pede com urgência. Depressa, depressa, a empregarem-se os meios, a aplicar-se a medicina por Mim indicada. Abre o meu Divino Coração; és senhora dele, tens a chave, dá-lhes entrada. Abre-se o meu divino Coração cheio de amor e misericórdia, para o receber. E abre-se a abóbada do firmamento para sobre a terra culpada, descarregar Meu Pai, a Sua justiça divina. Que escolha. Meu Pai não pode ver-Me ofendido. O que espera o mundo! As nações preparam-se falsamente com armamentos e artes venenosas. Estão a enceleirarem-se, à semelhança da formiga. Acode-lhe, acode-lhe, dá-Me a tua dor. E, com mais vida e coragem ma poderes dar, recebe a gota do Meu Divino Sangue, não mais deixarei de ta dar. Recebe-a por um tubo, formado do meu amor, que será para o teu coração fogo divino, uma transfusão de amor.
O tubo era cor de fogo, a gotinha de Sangue de Jesus caiu no meu coração e nele em todo o peito desfez-se aquele tubo como se fosse uma nuvem. Fiquei a arder e mergulhada naquele fogo doirado. Naqueles momentos tinha a minha alma toda a luz, Jesus não deixou o coração dilatar-se, acariciou-me e deu-me no rosto um ósculo divino.
― Vai sorridente para a tua cruz, vai espalhar este amor, vai infundi-lo nos corações. Tu és um portento de graças e maravilhas do Senhor. És e serás sempre a honra e a glória de Portugal, a luz e a salvação de todo o mundo. Confia, confia. Coragem, coragem.
― Obrigada, obrigada, meu Jesus.
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(Beata Alexandrina: “Sentimentos da alma”, 6 de Junho de 1947 - Sexta-feira)
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