quinta-feira, abril 06, 2017

A FASE MAIS DOLOROSA DA TUA VIDA

Ouvi a voz de Jesus...


Ontem, quinta-feira, a minha alma bateu-se e debateu-se no solo duro do Horto. Enquanto que o corpo sofria as dores horríveis, ela transportou-se para lá. Não era mais que uma bola formada e esmigalhada pela violência do martírio. Tinha nojo de me ver, tinha nojo de ver o mundo. Sem entrar no Calvário, todo o sofrimento dele me feria e fazia agonizar. Nesta manhã fui desencarcerada. Segui para os tribunais: recebi os açoites, a sentença de morte e a cruz. Tive muitas quedas; fui arrastada. E a alma no percurso da viagem quase não deixou de bradar. Bradava ao Céu, bradava ao Eterno Pai, bradava na dor mais pungente. O coração amava, ansiava chegar ao fim; o corpo cobria-se de suores, os olhos choravam lágrimas de sangue. No alto do Calvário senti no meu corpo a renovação da crucifixão. Puxaram-me tanto os braços, parece que todos os ossos se me desconjuntaram. No cimo da cruz não fiz outra coisa a não ser oferecer ao Calvário, oferecer ao mundo o meu coração aberto para a todos receber. Meu Deus, que ânsias infindas! Amava e perdoava. Agonizei: separei-me de Jesus, separei-me da dor. Pouco depois, Jesus voltou, renovou-me a minha alma. Do seu divino Coração saía uma forte chama que veio penetrar no meu. Esta chama durou até ao fim do colóquio com Jesus. Iluminou-me a alma e todo o ser. Ouvi a voz de Jesus a dizer-me:
— “Minha filha, minha filha, escuta o meu brado dorido, escuta o meu queixume de grande dor. Estou cansado de esperar a reconciliação do mundo, estou cansado de sustentar o braço de meu Eterno pai. Ó minha filha, minha filha, que tristes dias, que dias pavorosos esperam a pobre humanidade. Oh! se não fosse este Calvário, se não fossem as lágrimas vítimas, Eu não teria esperado tanto. O meu eterno Pai não cederia aos meus pedidos. Minha filha, minha querida filha, vive sempre unida à minha bendita Mãe, é ela com este Calvário que afasta a justiça, que atrai a misericórdia”.
— Ó meu Jesus, meu Jesus, posso ouvir todos os Vossos queixumes, posso sentir toda a Vossa dor, mas não deixarei nunca, nunca, meu Jesus, de confiar em Vós. Confio no Vosso perdão, confio na Vossa misericórdia. Espero, Jesus, espero que à medida que Vós fordes esperando e perdoando, o mundo se converterá e virá para Vós.
— “É grande a tua confiança, é grande muito grande o teu amor, é poderosa, muito poderosa a tua dor. Pede, pede, minha filha não cesses de pedir. Pede a todos quantos de ti se aproximam. Lembra-te de que foi a missão das almas, a missão mais sublime que eu te confiei. Pede, pede, não cesses de pedir para que se convertam, para que se emendem, para que venham ao meu Divino Coração. Pede, pede, filha querida, que o teu Jesus também pede. Pede pelos teus lábios, ama pelo teu coração e dá-se por ti inteiramente às almas”.
— Ó meu Jesus, fazei que eu Vos sirva com perfeição, fazei que eu desempenhe a minha missão da forma que Vos agrade e convenha. No meu sentir, nada faço por Vós, nada sofro por Vós, não me movo por Vós. Que pena, que pena, meu Jesus. As ânsias que tenho são grandes, mas não são minhas. O amor com que Vos desejo amar chega até Vós, mas não é meu. Que pobreza, que pobreza!
— “Confia, confia, minha filha. Por quem sofres tu, senão por Mim? Quem é que tu amas, a não ser o meu Divino Coração e as almas? O outro amor que tu dedicas fica aquém, muito aquém do amor com que me amas. Estás desprendida do que é da terra, vives a vida divina, vives a vida do Céu”.
— Acredito, Jesus, porque sois Vós que o dizeis. Ah! Pudesse eu acreditar sempre. Mas fora deste colóquio, desta união convosco, tudo, tudo desaparece, só o abandono me resta.
— “Estás na fase mais dolorosa da tua vida. Estás na fase mais difícil dos meus santos. O teu martírio excede acima de todos os martírios deles. Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Os nossos corações uniram-se. Passou nova vida para o teu coração. Passou nova efusão de amor. Vai dá-lo aos que te rodeiam, vai dá-lo a todos os que se aproximam de ti. Vai, e faz que se espalhe no mundo inteiro”.
— Ó Jesus, muito obrigada. O meu coração está outro, aquela chama de fogo que saiu do Vosso deu-me uma nova vida. Obrigada, obrigada, meu Jesus.

(Sentimentos da alma; 6 de Abril de 1951)

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