Quero ver o mundo numa só chama, que chegue da terra ao céu !
É tão grande o
edifício que sinto em mim! Parece-me chegar dum lado ao outro, aos confins do
mundo. Todo ele arde em chamas e eu ardo também com ele. Por entre as chamas,
aparecem dum e outro lado grandes enleios de espinhos. São tantos e tão agudos!
O fogo a todos destrói, transformam-se em chamas. Aparecem também muitos, muitos
rastos de sangue, mas este sangue não apaga o fogo. Tudo são chamas, grandes
chamas. Eu não estou satisfeita. Sinto, vejo que este fogo não atingiu a
verdadeira altura. Quero ver o mundo numa só chama, que chegue da terra ao céu.
Eu brado no meio deste fogo: quero amor, amor, mais amor. Quero amar a Jesus,
quero amar a Mãezinha e vê-Los por todo o mundo amados. Este fogo não é meu, e
as ânsias minhas não são. Perdi a Jesus, perdi a Mãezinha, de meu só tenho o
pecado. Perdi todos os que me são queridos. Quando sei que eles vêm junto de
mim, parece-me que sou assaltada por um bando de assassinos. Para onde foi o
amor a Jesus, à Mãezinha e a estima pelas pessoas queridas! Contudo, confio em
Jesus, que O não perdi, que O possuo ainda e que a minha estima pelas pessoas,
que Ele colocou em meu coração, em lugar tão alto, não terá diminuído, antes
pelo contrário, será cada vez mais intensa. Não quero usar de ingratidão nem
para o céu nem para a terra. Não quero usar do instrumento que tanto feriu a
Jesus.
— Meu Deus,
o mundo perde-se! As almas lá fogem pelos caminhos da maior perdição. E eu vejo
tudo! Quero ir ao encontro delas. Quero percorrer todos os caminhos e
prendê-las. E como prendê-las a Jesus? Só com cadeias de amor. Meu Deus, como?
Esse amor existe, mas, como não é meu, não me pertence. Tende dó, Senhor, dai
remédio a tudo isto, meu Jesus. Eu morro, não posso resistir. Não posso ver o
Vosso Divino Coração ferido, meu Jesus! Eu não posso consentir que as almas se
percam eternamente. Nunca mais verem a Jesus! E Jesus ficar sem elas, depois de
as comprar pelo preço do Seu divino sangue. Meu Deus, que será de mim? Dai-me
força, perco a vida. Ai, que mais posso eu fazer pelas almas, para lhes dar o
céu?
O demónio
apareceu-me só com um olho. Mas era tão grande! Tinha um olhar de tanta
malícia, tinha toda a maldade infernal. (Eu sei lá o que é olhar de malícia…
Mas nele o compreendo. Grava-se aquele olhar no coração. E aquele olhar é capaz
de prender tudo). Dentro desse olho estava um demónio em tamanho natural, de
baixo a cima, completo. Aquele olhar tão maldoso atraía, prendia a si todos os
corações que por tal maldade se levavam. Noutro ataque mais violento, ele me
dizia que ia ter uma noite de prazer e que valia a pena perder tudo para gozar
desta forma. Eu parecia-me arrumar para longe todos os objectos religiosos e
dizia: “não os quero, quero gozar”. Mas não, a verdade não era esta. Eu, sempre
que podia, oferecia-me a Jesus e pedia-Lhe por tudo para não pecar. Os
insultos, as palavras feias eram tantas! Eu estava tão triste! Vieram os
momentos mais aflitivos. Ele mostrava-se satisfeitíssimo e afirmava-me eu
pecar. Veio uma dor tão grande: desfazer aquilo que me parecia gozo. E logo
principiei a sentir pena de aquela dor me vir tirar tão grande satisfação. Meu Deus,
que horror! Fiquei desalentada, mas confiada, à espera de auxílio. (Sentimentos da
alma: 10 de Abril de 1945)
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