Não posso pensar que não amo a Jesus
A minha vida é morte; continuo a viver a vida dos mortos. Que imensa sepultura, em que podridão estou sepultada; causa-me nojo, causa-me horror. Sinto-me a ser comida pelos bichos escondidos nesta podridão; sinto-os a mexer e remexer nesta imundice. E não tenho outra vida a não ser esta, nem outra luz a não serem as trevas do meu espírito. Triste cegueira que não me deixa ver senão horrores nojentos, apodrecidos. E eu tanto a amo, abracei-a tanto e sinto não poder estar neste mundo sem ela. Quanto mais me orgulho, mais me quero mergulhar. Quantas mais trevas, mais trevas anseio. Ó amor do meu Jesus, não vivo, não conheço, não vejo; as coisas do Senhor não mas mostram a minha cegueira, as minhas trevas. Não posso pensar que não amo a Jesus e tanto anseio amá-Lo e fazê-Lo amado pelas criaturas. Quero subir para Ele e caio. Não me revisto Dele nem das Suas coisas; nada compreendo do que é do Céu. Que pobre e ignorante que eu sou! É por isso que eu sofro e quase me chego a persuadir que a minha vida, de tudo o que diz respeito às coisas do Senhor é uma ilusão minha; não digo intrujice porque não quero enganar ninguém. Como pode Jesus descer do mais alto ao mais baixo? Bendito Ele seja.
O demónio tem lutado para me levar a praticar tantos males; só com a graça de Jesus poderei resistir. Sinto-me como se fosse por ele arrastada para a maldade, para os vícios. Parece-me que estou revestida dele e de tudo o que a ele pertence. Não tive os combates apesar de os esperar, porque a grande tormenta que ele me causava me levava a crer que ele viesse. Mas nem por isso deixei de sofrer, ao sentir-me por ele arrastada, seduzida para tantas coisas fracas e parece-me que estou dele revestida e mergulhada em todos os tormentos do inferno. Se ao menos com os meus sofrimentos evitasse o pecado! Se com tudo isto, eu amasse a Jesus e O visse em todos os corações amado! Tenho vivido, nestes dias, sem procurar viver, a minha vida de há quatro anos na Foz. Como eu recordo todos os sofrimentos, gestos e palavras. Está tudo tão gravado em mim e tão profundamente, que jamais se apagará. Tudo isto por amor do meu Jesus e às almas; e nem mesmo assim O amo e as salvo. Meu Jesus, que pena eu tenho de não Vos pertencer inteiramente. Lembro com profunda dor e vivas saudades o Santo Sacrifício da Missa. Já aos anos que eu a não tenho no meu quartinho! Não voltarei a ter este mimo do Céu? Estou pronta, Jesus, para em tudo ser a Vossa vítima. O meu coração, o meu espírito voa a Roma; não só acompanhando os que já partiram para lá, mas também para já estar junto de Sua Santidade para implorar e receber dele aquilo que não sabe, mas que anseia e sabe que só dele virá. Pobre de mim! Tudo anelo e nada possuo a não ser miséria.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 13 de Junho de 1947 - Sexta-feira)
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