Canonização de S. João de Brito
Tenho que fugir, tenho que esconder-me, e não sei onde; não posso estar aqui. Que horror me causa o mundo com as suas coisas, com os seus habitantes! Para onde fugir, meu Jesus? Onde poderei esconde-me, a não ser no Vosso divino Coração? Mas a, pobre de mim, não tenho força, não sou digna de ser recebida por Vós. Estou cansadíssima, morro com ânsias de amar o meu Jesus. Quanto mais anseio, quanto mais peço, menos compreendo, menos conheço o Seu Divino amor. Sinto-me a morrer faminta e sequiosa; não encontro o que anseio; nem eu mesmo sei o que a minha alma deseja. Quero levantar-me e voar, voar ao alto, ir ao encontro da fonte em que anseia beber. As minhas trevas que eu amo e abraçai, estão em indizível aumento. Este voo, que eu anelei, vai, de momento a momento, ao Seu encontro. Tudo são trevas debaixo da terra, na terra, no ar, no firmamento. A minha alma ainda continua a alguma coisa querer de Roma. O meu coração está unido, preso por assim dizer ao Santo Padre; espera e confia que dele tem muito que receber.
Foi-me dado o gosto, por pessoa muito querida, de eu ouvir pela rádio a canonização de S. João de Brito. Ouvi Sua Santidade falar; sentia, tanto ao vivo, a presença de nosso Senhor nele, que me parecia ser a voz do próprio Jesus. Assisti à Santa Missa; ai, nem sei dizer o meu contentamento. Há quase seis anos que não tinha tido essa dita. Pedi tantas coisas a Jesus! Pedi-Lhe tudo o que era Dele para os que me são mais queridos, para a minha família, para todos os que às minhas pobres orações se recomendam, e por fim para o mundo inteiro. Ao ouvir o que se passava em Roma, lembrava-me do Céu, sim do Céu que em nada se pode comparar com as coisas da terra. Oh! Como eu acompanhava tudo isto! Com o sorriso nos lábios, satisfeita pela que ouvia, mas na dor mais profunda que se pode imaginar; o coração estava triturado e alma acompanhava, como que a chorar, o meu sorriso. Não se passou um momento sem ele sentir que ela chorava. As lágrimas da alma, a dor do coração eram imensamente maiores do que o contentamento e o sorriso dos lábios. Este contentamento e sorriso eram como que coisas humanas, que apesar de serem em mim, pareciam não me pertencerem. Por tudo louvei o Senhor e bendisse a minha cruz. Quero deixá-Lo desfazer-me em dor, para consolá-Lo e salvar-Lhe as almas. O que hei-de fazer, meu Jesus? O que daria eu por uma só alma! Sou pobre, dai-me a Vossa riqueza para com ela Vo-las comprar. Estou insatisfeita, sem ter que dar e sem saber falar para Jesus. Estou cheia de medo, sem saber de quem e porquê. Sinto que nova descarga de sofrimentos vem sobre mim; abro os braços para receber novos cravos; fito os olhos em Jesus para Dele receber conforto e para que Ele seja em mim o sinal d aceitação a tudo.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 27 de Junho de 1947 - Sexta-feira)
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