Ao meu lado direito estava a Mãezinha, à frente, Jesus, e, à esquerda, o Anjo com uma lança na mão. Por cima de nós e em nós desceu o Céu com todo o seu azul, guarnecido de Anjos; muito no cimo, um grande trono da SS.ma Trindade. Tudo era luz, gozo, doçura e amor. A vida do Céu! A vida das almas! Vivia-se ali, mergulhada naquele amor de gozo, parecido com uma nuvem ou fumo branco, que por si se sustenta e conserva no ar; era um nadar de doçura. A um sinal de Jesus, o Anjo levantou a lança, cravou-ma no coração; trespassou-mo, dum lado ao outro; não senti dor. No mesmo momento que ele retirou a lança, vieram do coração de Jesus para o meu muitos raios de amor mais belos que ouro, mais brilhantes e encantadores do que os raios do sol ao nascer. Trespassaram-me todo o coração esses raios, e pareciam reflectir-se no mundo e nele se espalharem. É indizível o gozo e o fogo que eu senti. Disse-me, do lado, a Mãezinha.
― Minha filha, Minha filha, salva o mundo, salva os meus filhos, salva-os comigo, salva-os com Jesus. Coragem, muita coragem, Eu serei contigo! Já reflectiste que faço do teu quarto a Cova de Iria? Já reflectiste que, como em Fátima, aqui desço todos os meses, não falando nas vezes que, como hoje, venho a convite do Meu Filho? É para te dar conforto e encorajar. Recebe as minhas carícias.
Apresentou-me Jesus uma cruz, pôs-me sobre ela; por trás Dele estava outra, era a de Jesus.
― Minha filha, a alma, que sofre por amor, goza na cruz. Aqui a tens; é tua no Céu, é tua na terra. Em tudo te assemelhas a Mim. A Minha acompanhou-me do nascimento ao Calvário, e aqui a tenho resplandecente no Céu. Recebe a gota do Meu Divino Sangue. Recebe a vida, leva a vida, dá-a às almas. Não contes, filha querida, acudir-lhes aos corpos; o mundo não se regenera, não há emenda de vida, tem de ser punido, tem de cair sobre ele a justiça de Meu Pai. Mas prometo-te que a tua nobre missão será desempenhada com todo o brilho na terra e no Céu. Confia, confia; as almas por ti são salvas.
Recebi de Jesus o Seu Sangue Divino, que caiu do Seu Coração para o meu. Deixei de ver os Anjos, a Mãezinha, o Céu; ficou só Jesus. Disse-Lhe ainda com o coração a arder:
― Ó meu Jesus, eu não temo a cruz, temo a minha miséria. Com a Vossa graça divina suportarei todo o peso que me esmaga. O que eu não sei, meu Jesus, é como me hei-de tornar digna de Vós. Eu, Jesus, eu, meu amor, eu, a mais pobre e indigna das Vossas filhas temo e tremo.
― Coragem, esposa amada! És pequenina para seres grande; sentes-te horrorosa para seres Formosíssima. Essa podridão é do mundo, não é tua. Coopera Comigo, Eu tornar-te-ei digna de Mim, farei que tenhas toda a graça e pureza, que de ti exijo. Vai contente e alegre, vai para a cruz.
― Obrigada, meu bom Jesus; dizei por mim um outro obrigada à querida Mãezinha. Eu vou para a cruz, só por Vosso amor e por amor às almas. Mas vou ainda confiada que hei-de vencer o Vosso Divino Coração e Vós vencereis o Vosso Eterno Pai, para que o mundo seja poupado à Sua justiça Divina.
Ai, meu Deus, o tempo passa, foge e eu sem virtudes, sem amor. Que pobreza a minha! Quando recordo o tempo, que passei neste colóquio, sinto-me mais forte. Oh, como Jesus é bom!
*****
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 13 de Junho de 1947 - Sexta-feira)
Sem comentários:
Enviar um comentário