No alto da cruz, o rosto de Jesus ainda era escarrado
Este quadro está aos pès da cama da Beata Alexandrina |
Não sei se estou ou não estou, se vivo ou não vivo no mundo. É na verdade, isto que a minha alma sente. Por vezes examino-me, interrogo-me a mim mesma: estou no mundo? Vivo nele? Ó meu Deus, parece-me que não vivo. As minhas trevas morreram e eu morri nelas, e nem por isso a ele abraçada. Ali, mais se me abriam as chagas e sobre ele mais as minhas carnes eram despedaçadas, e o sangue mais corria, mas inútil; a pedra não amolecia.
Nos entusiasmos e alegrias da ceia, não deixei de abraçar o Horto; via as grandes maravilhas de Jesus. Senti o amor com que S. João se inclinou ao Seu Santíssimo peito e o amor que, naquele momento, Jesus lhe fez sentir. Vi a luz, senti o amor de Jesus, ao dar-se a nós em alimento, mas o Horto não o pude deixar; segui então para ele. Que suor se sangue tão forte! Que agonia e amargura indizível! Levantei ao Pai o cálice e o sangue que transbordava regava o solo. Ouvi uma voz, que com toda a doçura dizia: amigo meu, a que vens? É com um beijo que entregas o teu Senhor! Que mal te fiz Eu a não ser amar-te? É assim que correspondes? E logo apareceu Judas que beijou Jesus.
No mesmo momento, vi uma lança muito aguda, que veio a espetar-se no Coração Divino de Jesus. Ele foi com ela para a prisão, no meio dos maus-tratos; não lha tiraram mais. O aumento dos maus-tratos aviva-Lhe mais a ferida feita por tão profunda lança. Saí, hoje, da prisão com Jesus; sigo com Ele para o Calvário. Sinto que a lança cá vai no Seu divino Coração e no meu, estão os dois num só, sofrem e sangram ambos, ao mesmo tempo. Sinto e vejo cair e levantar-se, para logo voltar a cair. Que sofrimento tão grande! Todo o Seu Santíssimo Corpo ferido, todas as feridas mais se avivam nas lajes, ao ser tão cruelmente arrastado.
Por vezes, vou eu a querer amparar Jesus, e não sou capaz; e não O posso ver sofrer assim. Que Calvário tão doloroso: Jesus desfalecido e eu também! Se eu O amasse, como Lhe dispensava em tais sofrimentos o meu amor! Sofro por O ver sofrer, sofro por O não amar. Ao aproximar-se o cimo da montanha, caí sem vida. O que lá me esperava ainda! O mundo, o Calvário de toda a ingratidão! No alto da cruz, o rosto de Jesus ainda era escarrado, e contra Ele proferiam muitas blasfémias. Jesus na Sua bondade infinita, como recompensa parecia mostrar-lhes o Seu Divino Coração, aberto pela dor e pelo amor, e convidava-os a entrar dentro. A uma recusa a Sua Santíssima alma chorava, eu sentia as Suas lágrimas. “Meus filhos, por que Me feris, por que procedeis assim?” Eu ouvia este murmúrio do Seu divino Coração.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 11 de Julho de 1947 - Sexta-feira)
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