― Meu Jesus, gozo e sofro ao mesmo tempo…
Senti-me a nadar num mar imenso de amor e em igual mar de dor; não sabia como nadar nestes dois mares, ao mesmo tempo.
― Meu Jesus, gozo e sofro ao mesmo tempo; não se viver; bendito sejas Vós por assim me teres neste sofrimento.
― Minha filha, esposa fidelíssima, és o Meu retrato; Eu estava na cruz, sofria e amava; sofria os maus-tratos, sofria os crimes com que ia ser ofendido e amava os que Me maltratavam, a todos quantos Me feriam. Tu estás na cruz, sofres, à Minha semelhança, e, à Minha semelhança, amas. Amas as almas, amas o Meu Divino Coração; confia em Mim. Eu sofria na cruz, e nem por isso deixei de amar. Goza do Meu divino amor, recebe a Minha vida, o Meu conforto e dá-Me, ao mesmo tempo, a tua dor.
Dito isto Jesus ficou silencioso, e eu fiquei a ser queimada naquele fogo e a nadar naquela dor. Passaram-se alguns momentos e voltou Jesus a falar.
― É o ouro no cadinho, a ser purificado, Minha filha; é a tua alma a ser polida, a abrilhantar-se. Recebe a vida, mais vida, para dares às almas e para viveres.
Voltou Jesus novamente a ficar em silêncio. Depois de algum tempo, mostrou-me o Seu divino Coração aberto, e disse-me:
― Minha filha, o Meu divino amor não conhecido nem compreendido; é bem pequenino o número dos que o conhecem e compreendem. Até mesmo os sacerdotes, as almas consagradas a Mim, não conhecem o Meu divino amor, não compreendem o que é uma ofensa feita ao Meu Divino Coração. Vê quanto sofro! Consola-Me e desagrada-Me tu ao menos que compreendes a loucura de amor deste Coração e a gravidade duma ofensa feita ao mesmo Divino Coração.
Jesus ficou novamente silencioso. Depois de algum tempo, fui eu, desta vez, que exclamei:
― Jesus, meu doce amor, fazei que todos Vos conheçam e Vos amem. Sois o Senhor, tendes o poder. Dou a todos as Minhas divinas graças; rejeitam-nas, desprezam-nas.
― Faz-Me tu conhecido e amado. Vou dar-te, esposa querida, a gota do Meu Divino Sangue. Vão dois Anjos introduzir no teu coração o tubo do amor.
Vieram dois Anjos, colocaram-se um de cada lado, introduziram no meu coração um tubo doirado. Veio Jesus; no cimo do tubo colocou o centro do Seu Divino Coração. A gotinha do Seu Sangue caiu, enquanto que os anjos com toda a reverência se inclinavam para Jesus e batiam serenamente, cada um por sua vez, as suas asinhas brancas. Jesus continuou a falar-me, enquanto que eles, muito devagarinho, com toda a suavidade, foram subindo até certa altura, da qual, depois num voo rápido, desapareceram. Jesus deu-me o Seu Sangue Divino, e ficou a chorar.
― Sofro tanto com a ingratidão do mundo! Recebe esta vida e vai dá-la às almas para as quais Eu te criei, Minha filha.
― Eu vou, meu Jesus, mas não sem que estanqueis as Vossas lágrimas; passai-as todas para mim, dai-me toda a Vossa dor, ficai na consolação, e, depois, eu vou, meu Jesus.
― Foi para isso, filha querida, para te condoeres de Mim, para ficares na dor, que Eu chorei. Vai, louquinha de amor, vai, encanto de Jesus; vai para a cruz que te espera; abraça-a, e, abraçada a ela, pede ao mundo que não peque, que se converta, que Me ame, que venha a Mim. Coragem, muita coragem; para que Eu não sofra, para que Eu não chore, sentirás sempre na alma as Minhas lágrimas, e em teu coração a Minha dor. Coragem! Eu estou sempre contigo
― Obrigada, meu Jesus. Quero sofrer, quero chorar, para Vos consolar. São as minhas ânsias: consolar-Vos, amar-Vos, salvar-Vos as almas.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 4 de Julho de 1947 - Sexta-feira)
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