sábado, setembro 24, 2011

JESUS ASSEMELHOU-ME A ELE...

Amo com loucura a minha cegueira de espírito

Vitral na igreja de Balasar
O tempo passa, só eu não mudo; um dia dá-me o outro dia, uma semana outra semana, um mês outro mês, um ano outro ano, e eu sempre na mesma, ou antes, pelo contrário cada vez mais cega, mais fria e gelada. Apagou-se por completo a luz da minha esperança; esperava, confiava no passar da vida aumentar em zelo, virtudes e amor, enlouquecer-me por Jesus, dar-Lhe aquilo que Ele anseia que eu seja; mas não, em vez de aumento perdi tudo, tudo em mim morreu. Apagou-se a luz que me iluminava e indicava o caminho; não posso ir para Jesus. Que cegueira a minha! Não tenho ninguém, nem, ao menos, quem me guie. Amo com loucura a minha cegueira de espírito, por ser esta a vontade do meu Senhor. Estou na cruz, não posso desprender-me dela, nem quero desprender-me; amo-a de alma e coração. Jesus assemelhou-me a Ele, bendito Ele seja. Sou a Sua vítima, quero salvar-Lhe as almas. Sinto-me crucificada, e, ao mesmo tempo, todo o corpo moído pela lepra, a desfazer-se em cinzas. E a alma chora, ao vê-lo assim tão miserável, tão criminoso e nojento. Sim, chora, chora continuamente, chora por dentro. Não sei como posso ter o sorriso nos lábios quando o coração e a alma soluçam, suspiram sem cessar. Ó meu Deus, que luta a da minha vida, que mar tempestuoso, que tempestade furiosa, destrói tudo; tudo está em ruínas! Eu caí, fui destruída, quero reviver, quero levantar-me, e não posso. Neste desfalecimento fito a Jesus e à querida Mãezinha, peço-Lhes amor, quero amá-Los, e não sou capaz. Quando Lhe peço profundamente, por momentos, me parece desaparecer do mundo, entrar no lado de Jesus e ir beber à chaga do Seu divino Coração, e fico-me ali a beber, e de lá trago mais vida e conforto. Com este conforto, sinto como se batessem em mim umas asas teimosas a tentarem levantar voo ao alto, para me levarem à verdadeira vida. Mas a dor, as cadeias da dor, prendem-me à terra, tenho que ficar, não posso voar, não posso partir ainda.
O demónio anda raivoso, de olhos esgaçados, aterradores, a tentar assaltar todas as janelas dos meus sentidos; tenta perder-me, quer arrastar-me, quer levar-me com ele. Que medo eu tenho de, por qualquer forma, fraquejar e ferir o meu Jesus! Temo o maldito, temo as criaturas. Não sei o que me espera, de por outra não sei o que espera a causa de Nosso Senhor. Venha o que vier, estou pronta para os golpes, para receber novos espinhos. Jesus e a Mãezinha serão a minha força.
(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 4 de Julho de 1947 - Sexta-feira)

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