O que em mim vai nascendo, nas trevas vai morrendo...
A minha vida morre nas trevas; eu já morri, e o que em mim vai nascendo, nelas vai morrendo sem conhecer a vida; apenas nasce, logo morre. Tenho o meu espírito tão escurecido parece-me que não sei compreender nem dizer o que sofro, o que em mim se passa. Eu sei que sofro dores, tristezas, amarguras, agonias de alma, mas não sei dizê-las, nem compreendê-las, nada ou quase nada. Apesar de ser em mim o sofrimento, sofro tanto à distância, sinto que não é meu o que sofro, e por ser tão longe e não ser meu, nada dele sei falar. Não me preocupa o não me compreenderem nem saber falar da minha dor, mas, sim, não sofrer como Jesus quer, com a perfeição que Ele quer, e não saber o que Ele quer. Causa-me verdadeiro horror o ver-me visitada por tanta gente. Tenho até nojo de mim, e pergunto a mim mesma: o que vem esta gente ver? Coitadinhos! Se vissem o que sou! E falo assim, porque sinto e vejo em mim um mundo de vergonhosa e nojenta podridão, podridão de tudo quanto há de imundo. Pobre gentinha que não vê o que eu sou! Esta repugnância e horror, que agora sinto às visitas, não é igual àquele que até agora sentia; este é mais sofrimento de alma; o que sentia era mais pelo cansaço e desejo de estar sozinha no silêncio, na união com Jesus. Este é mais horroroso, por ver que sou só podridão, que sou a vergonha da humanidade, indigna de aparecer aos divinos olhares de Jesus e ser assim tão visitada sem a pobre gente saber o que visita. O Senhor seja comigo, com a Sua graça, para que eu possa sofrer e ter aquela pureza de alma e corpo que o meu Jesus quer e eu devia ter. Ó meu Deus, ó meu Jesus, não sou digna de Vós. Onde está a minha perfeição? Em nada a encontro.
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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 18 de Julho de 1947 - Sexta-feira)
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