quarta-feira, novembro 16, 2011

O FOGO DAS PAIXÕES...

Ó dor, ó dor, ó dor salvadora!

Veio a prisão e eu segui Jesus, sempre a ser com Ele maltratada; e, hoje, logo de manhãzinha eu, à prisão O fui encontrar, sempre acompanhada do mesmo sofrimento que era um martírio triturante. Voltei a ver a cruz de Jesus e com Ele andei a caminhar entre o alarido e grande algazarra do povo. Os sofrimentos de Jesus eram para todos grande festejo. Não se comoveram ao vê-Lo chagado, ferido. Caminhamos para o Calvário, suportei a Sua amargura e a minha. Custou tanto a chegar ao cimo! O meu peito serviu de montanha e o meu coração de cova da cruz onde Jesus estava crucificado. Ele regou com o Seu divino Sangue o solo duro, que eu representava. Com ser eu o Calvário sento-me abraçada a ele, abraçada à cruz. Queria sofrer, queria morrer. O sangue de Jesus caía, os corações dos que O rodeavam com rancor não se comoviam. Um grande número tinham em suas mãos chicotes e finas varas com os quais, mesmo na cruz, tentavam satisfazer mais seus gostos, ferirem a Jesus. Quantos escarros Lhe queriam ainda lançar em rosto. O meu coração via tudo aquilo. Oh! como Ele sofria! O meu brado unia-se ao de Jesus, a pedir socorro ao Pai. Quando Jesus expirou, com que amor, bondade e doçura Ele Lhe disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito; é para ti o Meu último suspiro. Tudo se calou, tudo ficou por algum tempo em silêncio. Jesus tinha morrido, mas veio depressa; ressuscitou, deu-me a Sua vida e falou-me:
― Coragem, coragem, minha filha! Oh! commo são belos e prodigiosos os caminhos dos escolhidos do Senhor. Oh! como é bela, luminosa e atraente a vida da esposa mais fiel, a vítima mais generosa que Jesus escolheu para Si. Coragem, coragem, minha filha. Não é só pedir-te a dor para ouvir dos teus lábios um sim cheio de amor e generosidade; peço-te a dor e quero a dor, peço-te a dor e busco todos os meios para te fazer sofrer. Ó dor, ó dor, ó dor salvadora! O fogo das paixões incendiou-se no mundo, não há quem o apague; em vez de água a apagá-lo, dentando-lhe a lenha das maldades, crimes hediondos, as maiores iniquidades a incendiá-lo; subiram ao seu auge as labaredas criminosas. Dá-me a tua dor, filha querida, e diz tu ao mundo que Jesus o ama e quer; diz-lhe que se converta depressa, depressa. Se assim não for, quanto ele terá que chorar e gemer. O fogo já corre pelos rastilhos, a bomba divina não demora a explodir.
Jesus dizia isto com lágrimas, suspirava em profunda tristeza. Não pude vê-Lo assim.
― Meu Jesus, meu Jesus, não consinto nas Vossas lágrimas. Para que sofro eu? Para que quereis Vós a minha dor, a minha tão pobre e sofrida dor! Ponde-lhe os Vossos méritos, ponde-lhe o Vosso amor e consolai-Vos nela e dela fazei o que bem Vos aprouver. Quero eu chorar, sofrer e estar triste, contente só por fazer a Vossa divina vontade.

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 24 de Outubro de 1947 - Sexta-feira)

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