segunda-feira, novembro 28, 2011

SEI QUE SOU NADA...

O sol escureceu-se, a terra tremeu...

No Horto, senti bem, como se fosse o meu rosto, pousado na terra, todo ensopado em sangue. Pareceu-me que todos os meus vestidos nele se ensoparam também. Sofri tudo, tudo ali com Jesus; ainda que eu quisesse, não podia deixá-Lo; com Ele fui para a prisão.
Na madrugada, muito cedo ainda, em vão procurei consolá-Lo. Como o meu Jesus estava desfalecido! Que pena eu tive! Por mais que Lhe quisesse dizer, quase nada disse, não pude consolá-Lo, não soube amá-Lo. Mais tarde, ainda sem a sentença estar dada, vi os cravos que O haviam de pregar à cruz, o martelo que os havia de bater. O Coração de Jesus desfazia-se pela dor, o peito abria-se com o peso que o sobrecarregava. Eu queria acariciá-Lo, mas sentia no meu corpo que não podia tocar no Corpo divino de Jesus, por todo estar em ferida e em sangue; era tal o sentimento e dor, que eu tinha, que não parecia ser o Sagrado Corpo de Jesus ferido, mas sim o meu. Neste sentimento passei todo o caminho do Calvário e no mesmo sentimento O acompanhei na agonia da cruz. Parecia ser o meu sangue que sobre ela corria, pareciam ser as minhas carnes despedaçadas que caíam junto dela. Pobre de mim, sei que sou nada e nada sofro; era Jesus que em mim sofria. Se ao menos eu soubesse acompanhá-Lo!
O sol escureceu-se, a terra tremeu, aproximava-se o fim de tão grande tragédia. Jesus ia morrer, mas a ingratidão ficava. Que aumento de agonia! Senti perder a vida com tal ingratidão que, até ao último momento foi como que uma lança aguda a ferir-me o coração. Fiquei por algum tempo, como se expirasse Jesus também. Como Ele não tinha morrido, veio, fez-me viver e disse-me:
― Minha filha, Minha filha, desceu o Céu, desci Eu ao teu coração. Desci, Minha filha, ou melhor fiz que desci para Me comunicar a ti, para ouvires a Minha voz divina. Estou aqui e estou também no palácio riquíssimo do teu coração. Tu és, esposa amada, o espelho das virgens, o anjo dos jovens e das donzelas. Tu vieste ao mundo para escola de toda a humanidade. Em ti aprendem as donzelas a guardarem para Mim o lírio cândido da sua pureza; em ti aprendem velhos e novos, ricos e pobres, sábios e ignorantes; em ti aprendem todos a amarem-Me no sofrimento, a levarem a sua cruz.

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 5 de Dezembro de 1947 - Sexta-feira)

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