Testemunho de um Bispo
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S. Ex.cia R.ma D. António Dias Bispo de Portalegre-Castelo Branco |
Multidões chegam
a Balazar, de perto e de longe, com dores no corpo, com feridas na alma. Nesse
lugar, a crescer como grande centro da Reconciliação e da Eucaristia, ecoa o
mistério de Deus e a grandeza dos simples a incutir esperança, a ensinar a
grandeza da vida e o valor da cruz que converte, liberta e salva. Alexandrina
de Balazar é “fruto maduro da graça e da liberdade”, é “dom de Cristo à sua
Igreja e ao mundo”. É uma página viva do Evangelho que é preciso ler, reler,
voltar a ler e ler outra vez. Ela descobriu o amor de Deus por si própria e
pelos outros. Soube associar-se à Paixão de Cristo pela salvação do mundo.
Presa na sua cama, torturada pelo sofrimento, tornou-se uma missionária
apaixonada e eficiente de Cristo. A todos recebia e desafiava à santidade. A
todos falava de Deus e apelava à conversão. A todos recomendava um amor
concreto à Eucaristia, fonte da sua coragem e alimento da sua fé apostólica. A
todos deixou um património imenso de orações a demonstrar o seu grande amor aos
Sacrários de todo o mundo, sobretudo aos mais esquecidos e abandonados. Tinha
um coração agradecido, cheio de amor simples, comprometido com a sorte dos
outros, um amor abrangente e universal.
“Dou-vos graças,
Eterno Pai, por haverdes deixado a Jesus no Santíssimo Sacramento”, rezava ela.
“A minha loucura é a Eucaristia” e “eu queria que o meu coração fosse uma
lâmpada sempre a arder em cada um dos vossos sacrários”. “Quanto mais doloroso
é o meu martírio, mais eu Lhe quero e mais reconheço a minha miséria e o meu
nada … como poderia resistir a tanto, se não fosse Jesus a sofrer, a lutar e a
vencer em mim?”
“Ó meu Jesus, eu
quero em cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que
respirar, cada segundo das horas que passar, sejam actos de amor para os Vossos
Sacrários.
Eu quero que cada
movimento dos meus pés, das minhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada
vez que abrir os meus olhos ou fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada
alegria, cada tristeza, cada tribulação, cada distracção, contrariedades ou
desgostos, sejam actos de amor para os Vossos Sacrários.
Eu quero que cada
letra das orações que reze, ou oiça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça
prenunciar, que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que conte ou
oiça contar, sejam actos de amor para com os Vossos Sacrários.
Eu quero que cada
beijinho que vos der, nas Vossas imagens, nas da Vossa e minha querida
Mãezinha, nos Vossos santos e santas, sejam actos de amor para com os Vossos
Sacrários.
Ó Jesus, eu quero
que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo
encerra, oferecida às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém,
sejam actos de amor para os Vossos Sacrários.
Eu Vos ofereço as
folhas das árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florezinhas
oferecidas folhinha a folhinha (pétalas), todos os grãozinhos de sementes e
cereais que possa haver no mundo, e tudo o que contém os jardins, campos,
prados e montes, ofereço tudo como actos de amor para os Vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos
ofereço as penas das avezinhas, o gorjeio das mesmas, os pêlos e as vozes de
todos os animais, como actos de amor para os Vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos
ofereço o dia e anoite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o
sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como actos
de amor para os Vossos Sacrários.
Ó Jesus, eu Vos
ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grandezas, riquezas e tesouros do
mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho o costume de
oferecer-vos, tudo quanto se possa imaginar, como actos de amor para os Vossos
Sacrários.
Ó Jesus, aceitai
o céu, a terra e o mar, tudo, tudo quanto neles se encerra, como se esse “tudo”
fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-Vos como actos de amor para os
Vossos Sacrários”.
Treze anos antes
de morrer, escrevia:
“Desejo ser sepultada, se for possível, com o rosto
voltado para o sacrário da nossa igreja; pois como em vida sempre desejei
unir-me a Jesus sacramentado e olhar para o sagrado Tabernáculo, assim também
depois da minha morte desejo continuar a velá-lo, conservando-me voltada para
ele. Sei que com os olhos do meu corpo já não verei a Jesus, mas desejo ser
colocada naquela posição, para demonstrar o amor que sinto pela sagrada
Eucaristia”.
Como seria belo
se os Sacrários das nossas igrejas e capelas fossem o centro da vida familiar e
das comunidades cristãs, donde tudo partisse, para onde tudo convergisse!
António Dias,
Bispo de Portalegre e Castelo Branco.