quinta-feira, abril 12, 2012

A VIAGEM DE DEOLINDA

O demónio afirmava-me ter havido desastre na viagem

De manhã cedo, comecei a sentir a minha alma atormentada pela dor que me causava a viagem que a Deolinda ia fazer. Ia com pessoas que tanto estimava e visitar pessoas que tanto amava. Fazia muito gosto que ela fosse, mas gostava de eu ir também. Ofereci a Nosso Senhor o sacrifício de não manifestar os sentimentos que me iam na alma. Mas, por fim, não fui capaz de me vencer, mostrei a minha pena e saudade. Fiquei na minha cruz, aumentada pela preocupação do que se passaria na viagem pela fraqueza da minha irmã, e que correria mal a viagem para todos, e pelo paizinho que eu esperava fossem visitar, o que teria dado a ele um grande gosto, coisa que se não pôde realizar. Senti-me também mais pequenina por ver que pessoas de respeito tanto se incomodavam por nós. Este sentimento persegue-me nestes dias, sentindo cada vez a minha indignidade diante de qualquer pessoa que me vem visitar. Na noite deste mesmo dia, sofria amarguradamente as consequências daquela tarde. Sem querer, recordava o que se tinha passado. Nem ao menos Jesus deixou a minha alma sentir o conforto da confissão. Oh! Não. O bondoso sacerdote não me deu conforto; já não foi a primeira vez. Vejo que Jesus até isso tirou para Ele. Anseio sempre a visita do confessor para mais purificar a minha alma e depois confessar-me. Meu Deus, que amargura! Amargura, sim, grande, muito grande, mas estava em paz, tinha a tranquilidade da alma, porque não menti nem pensei em enganar.
— Aceitai, Jesus, a minha amargura; eu quero-a, eu amo-a, porque Vos amo e amo as almas.
Estavam duas noites em contacto uma com a outra: a noite que ia lá fora e a noite dentro de mim. O demónio afirmava-me ter havido desastre na viagem dos que eram tão queridos. É o pai da mentira, queria atormentar-me. Pouco depois, acabavam de chegar. A alegria não foi para mim, Jesus não permitiu que eu a sentisse. Estive algum tempo com o santo sacerdote que veio para dar luz à minha alma e tirar-me das minhas dúvidas. Parecia-me mentira ele estar junto de mim; sentia-o a uma distância tão longe que nada havia que pudesse alcançá-lo. O seu rosto parecia-me apenas uma casca de ovo.

(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 22 de Fevereiro de 1945)

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