O UTIMO DIA DA ALEXANDRINA
Durante a manhã
de 12 de Outubro, dizia repetidas vezes:
“Eu queria o Céu!
Eu não tenho peninha nenhuma de deixar a terra! Acabaram todas as trevas da
alma! Acabaram todos os sofrimentos da alma! É sol, é vida, é tudo, é tudo, é
Deus!”
A irmã
perguntou-lhe: — Tu que querias?
“O Céu, porque na
terra não se pode estar. Eu queria receber a Extrema-Unção, enquanto estou viva
(lúcida). Vai ser muito bonito aqui. Ó Jesus, seja feita a vossa vontade e não
a minha!
Neste dia, 12 de
Outubro, pelas 15 horas, tendo sido autorizado, fez o seu acto de resignação à
vinda do Paizinho. Todos de joelhos, a Alexandrina acompanhada pelo Sr. P.
Alberto Gomes, recitou o seguinte acto:
“Ó Jesus Amor, ó
Divino Esposo da minha alma, eu, que na vida sempre procurei dar-Vos a maior
glória, quero na hora da minha morte fazer-vos um acto de resignação à vinda do
meu Paizinho Espiritual; e assim, meu amado Jesus, se neste acto der maior
glória à Trindade Santíssima, eu jubilosamente me submeto aos vossos eternos
desígnios, renunciando à felicidade que a presença do meu Paizinho me daria,
para só querer e implorar da vossa misericórdia o vosso reinado de amor, a
conversão dos pecadores, a salvação dos moribundos e o alívio das almas do
Purgatório”.
Imediatamente
seguiu-se o acto da resignação da sua morte, assim:
“Meu Deus, como
sempre vos consagrei a minha vida, vos ofereço agora o fim dela, aceitando
resignada a morte, acompanhada das circunstâncias que vos derem maior glória”.
No fim destes
dois actos, foi-lhe ministrada a Extrema-Unção pelo reverendo Pároco desta
freguesia. Antes de receber este Sacramento, pediu singularmente perdão à mãe,
à irmã, ao confessor Sr. P. Alberto, ao Sr. Abade, ao Sr. Doutor, às primas, às
pessoas amigas e à criada. Enquanto pedia perdão, disse estas frases:
1º “Minha mãe,
perdoe-me as minhas impertinências e agradeço todos os cuidados que teve
comigo”.
2º “Deolinda,
perdoa-me. Foste uma sacrificada por mim. Agradeço tudo o que fizeste por mim”.
3º Ao Sr. Dr.
Azevedo: “Agradeço-lhe tudo e peço-lhe perdão. Eu não o esquecerei no Céu”.
4º Ao Sr. Abade:
“Peço-lhe perdão. A minha eterna gratidão por me trazer Nosso Senhor todos os
dias. Peço que em meu nome peça perdão ao povo todo”.
5º Ao Sr. Dr.
João: “Agradeço-lhe tudo, e não esqueça a minha família e sobretudo a Deolinda.
Perdoe-me tudo por alguma palavra que o tivesse ofendido”.
6º À Sr.ª D.
Germana: “Perdão por tudo, por alguma palavra em que a tivesse ofendido”.
7º “Para ti,
Sãozinha, a minha gratidão eterna, que bem o mereces”.
8º “Maximina,
perdoa-me tudo, se te ofendi. Só do Céu te poderei pagar tudo. Amai-vos como
irmãs. Sê amiga da Deolinda”
9º “Laura,
perdoa-me tudo. Não me esquecerei de vós, quando estiver no Céu. Tenho-vos sempre
presente como aqui. Amai sempre a Jesus. Sede amigas da Deolinda, que ela
continua a ser vossa amiga.
10º À Auxília
(criada): “Tens sido muito minha e nossa amiga. Continua a sê-lo, que eu vou
pedir por ti no Céu.
À Sr.ª D.
Conceição Azevedo disse: Peço por todos.
À Ireninha disse:
Ireninha, Ireninha!
À Manuela: Adeus,
meu amor.
Às pessoas que
lhe tinham feito bem: Agradeço a todas as pessoas que nos fizeram bem e peço
por elas no Céu.
Depois de pedir
perdão, falou assim: “Já estarei com a minha alma pura para receber a
Extrema-Unção?”. Foi ministrado este sacramento. Depois, foi dizendo: “Ai,
Jesus, não posso mais na terra! Ai, Jesus! Ai, Jesus! A vida, o Céu custa,
custa. Sofri tudo nesta vida pelas almas. Esmirrei-me, pilei-me nesta cama, até
dar o meu sangue pelas almas. Perdoo a todos. Foram tormentos para meu bem.
Perdoo, perdoo. Ai, Jesus, perdoai ao mundo inteiro. Ai, estou tão contente,
tão contente por ir para o Céu! (Sorriu-se com os olhos no Céu). Ai, que
claridade! Ai, Sr. Dr. Azevedo, que luz! É tudo luz! (Sorriu-se). As trevas, as
trevas, tudo desapareceu. Bem dizia o Sr. Doutor!...”
Às 6 horas da
manhã do dia 13:
“Meu Deus, meu
Deus, eu amo-vos! Sou toda vossa! Tenho necessidade de partir! Não gostava de
morrer de noite! Morrerei hoje?! Gostava”. (Sorria-se de um sorriso angelical).
Pediu à irmã que
lhe desse a beijar o crucifixo e a Mãezinha. A irmã perguntou-lhe: Para quem te
sorrias? “Para o Céu”.
Durante a manhã
foi visitada por várias pessoas. Quando entrou um grupo, exclamou, assim, com
voz mais forte: “Adeus, até ao Céu!”. Não pequem! O mundo não vale nada! Isto
já diz tudo! Comunguem muitas vezes! Rezem o terço todos os dias!”.
Às 11 horas,
disse ao Sr. Dr. Azevedo: “Está para breve”. Ele perguntou-lhe se os breves
dela eram iguais aos de Nosso Senhor. E continuou: Certamente amanhã, às 3
horas, Nosso Senhor ainda lhe quer falar.
Ela sorriu-se
levemente.
Às 11h25: “Eu sou
muito feliz porque vou para o Céu!”
O Sr. Dr. Azevedo
disse: No Céu peça muito por nós. Ela acenou que sim.
Às 11h35 pediu
que lhe rezassem o ofício da agonia.
Às 17 horas,
disse para um homem: “Adeus, até ao Céu!”
Às 19 horas,
disse: “Vou para o Céu!”
Às 19h30,
exclamou: “Vou para o Céu! A irmã retorquiu: Mas não é já. A Alexandrina
respondeu: “É, é”.
Às 20h29 expirou.
Conservou-se perfeitamente lúcida até ao último momento da sua existência.
Assistiu à morte Mons. Mendes do Carmo, a família e pessoas amigas. (Sentimentos da alma: 12 de outubro de 1955)