quarta-feira, outubro 05, 2011

TENHO MEDO DE FALAR DE MIM

Não ouvi nem vi quem me defendesse, mas cessou a luta!

Invoco os auxílios do Céu; sem eles não poderei ditar. O que tenho sofrido; só o mesmo Céu, só Jesus é conhecedor! Que mar de dor! E sinto que de nada me tem aproveitado tanto sofrer. Quanto mais sofro, menos tenho que dar. Quando sentia que os meus sofrimentos não chegavam, junto de Jesus, e com o meu muito sofrer não lhos oferecia como devia, dizia-Lhe: vede, Jesus, vede, no meu coração, por quem eu sofro, nele vede a quem eu amo, ou melhor, meu Jesus, a quem desejo amar; assim fico certa de que não tento enganar-Vos e de que sabeis a verdade, que sempre quero ter em meus lábios. Tudo me foge, tudo se apaga. Os dias passam, os sofrimentos aumentam, e eu cada vez me sinto mais indigna de Jesus. E Ele a querer-me cada vez mais pura, mais digna de O possuir. Tenho medo de falar de mim, dos meus sofrimentos, de toda a minha vida. Tenho medo de todos, tenho medo das minhas trevas, de tão medonha cegueira; morri nelas, e esta morte a elas se colou, e não se descola mais. Não sei dizer o meu martírio. Se eu falasse de Vós, do Vosso amor; mas falar de mim e de quanto sofro, quanto me custa, ó amor da minha alma! Bendita seja a cruz que me dais.
Tinha o meu corpo em dores agudíssimas, a febre a grande altura, e mesmo assim não fui poupada pelo demónio; assustou-me, por duas vezes, com um pequeno intervalo, de um ao outro. Vestiu-me e revestiu-me de todas as maldades, e colocou-me num mundo das mesmas maldades. Tudo era desprezo e aborrecimento ao bem, prazer e loucura pelo mundo. travou-se a luta com as suas vergonhosas lições. Gritei por Jesus e pela Mãezinha: não posso nem sou nada sem Vós; acudi-me; não quero pecar, prefiro o inferno; se hei-de ofender-Vos, dai-mo já, meu Jesus; sou a Vossa vítima.
Não ouvi nem vi quem me defendesse, mas cessou a luta. Ficaram os espinhos muito penetrantes, provocados pela lembrança, se teria pecado, mas, tempo depois também desapareceram. Jesus não deixou de velar por quem só a Ele quer pertencer. Tive alegrias, que logo morreram e espinhos, que sempre me ficaram a ferir. Tudo recebi como mimos de Jesus, tudo Lhe ofereci e agradeci do meu coração. Muito obrigada, meu Jesus; fazem tão bem à alma as humilhações! Para mim o Vosso divino amor, e para Vós toda a glória, meu Jesus. Continuo a sentir a chagas, a coroa de espinhos e a lança.

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(Beata Alexandrina: Sentimentos da alma, 1º de Agosto de 1947).

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