sábado, maio 08, 2021

SENTI COMO SE UM CANAL…

Aquele canal tinha a vida divina


Esquecida d’Ele e da Sua santa paixão, ou melhor, não esquecida mas mergulhada neste sofrimento de esquecimento, fiquei no solo duro e triste do Horto. Foi tristeza e agonia mortal. Apavorada a minha alma, a lutar com todo o martírio, senti como se um canal descesse do Céu e dentro dele me introduzisse. Aquele canal tinha a vida divina. E toda a minha vida terrena, todo o meu ser de misérias foi por ela trespassada como raios de sol doirados e penetrantes. Que mistura, que mistura… a terra com o Céu! Se eu soubesse exprimir-me com soube sentir, levava uma vida inteira só a falar disto, sem acabar. Acompanhei Jesus na prisão. Durante a noite, repetidas vezes lá nos encontrámos, assim como no sacrário. Hoje de manhã segui para o Calvário, seguiu a minha alma. Os caminhos não tinham sol, a tristeza foi mortal. No percurso da viagem fiz vários sacrifícios por amor do Senhor. Senti como se Ele tudo me rejeitasse. Com Ele subi até ao cimo da montanha. Naquela noite trevas e mar infinito de dor, Ele coberto de sangue, com as carnes despedaçadas, quase a agonizar, dizia-me em silêncio dentro do coração: “Ama-me, vê quanto sofri por ti!” Com Ele fui despojada dos meus vestidos, com Ele senti a vergonha, o pudor e com Ele fui crucificada. Nas horas de agonia senti que a nossa união era um contraste, era um anel que nos apertava e nos levava a viver a mesma vida. Agonizei com Jesus. eu bradava com Ele e ao nosso brado toda a terra estremeceu. Ele expirou. Tive que expirar com Ele. Não foi prolongado o silêncio da noite: Jesus cheio de vida e luz fez-me viver e dentro do meu coração falou-me assim:

— Alegrai-vos, está aqui o Senhor. Desceu do Céu. Bendizei o Seu nome! Alegrai-vos! Está aqui Jesus. Está no seu trono, no seu paraíso de delícias. Alegrai-vos! Ele está aqui e vai falar aos vossos corações. Convido-vos, convido-vos a todos. Vinde a Mim! Vinde a Mim, filhos meus! Falo pelos lábios da minha vítima, falo e peço a toda a humanidade. Amai-me, amai-me. Quero ser amado. Está neste calvário a luz e o farol do mundo. Está neste calvário a escora da justiça do Senhor. Está neste calvário o íman atraente que atrai as almas ao Seu Coração. Está neste calvário o porta-voz de Jesus. Este calvário é um portento de graças. Este calvário é o calvário das maravilhas de Deus. Este calvário é, sobretudo, calvário do amor, do amor da louca do amor por Jesus. Criei-te por amor, minha filha. Por amar-te, escolhi esta nobilíssima missão. Por amor te conservo a tua vida aqui. Vives de Jesus. Vives da Eucaristia. Vives da vida divina. É o poder do Senhor aqui manifestado. Quero salvar-vos, filhos meus. Indico, manifesto pela minha vítima mais uma vez o caminho da salvação. Fala às almas, minha filha, fala às almas. Fala-lhes enquanto estás na terra. Do Céu, sim, do Céu dar-lhes-ás chuvas de bênçãos, chuvas de graças, chuvas de salvação. (Alexandrina Maria da Costa: 08-05-1953)

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