Passou-se algum tempo; veio Jesus, cheio de vida; deu-me a vida, e disse-me:
― Minha filha, minha filha, a vítima não pode sair, no momento, da sua imolação e sacrifício! És a Minha maior vítima, a Minha vítima mais amada; não podes ser libertada do teu martírio, porque o mundo não deixa de pecar. Eu não deixei aquela posição, em que Me viste, os espinhos não desapareceram da Minha Sacrossanta Cabeça, não levantei dos Meus divinos olhos as mãos, a Minha visão era outra; via os crimes de toda a humanidade, via a renovação contínua da Minha santa paixão, foi por isso que te fiz ver todo o Horto e Calvário. Tem coragem, porque Eu não sofri a não ser em ti. Tu sim, Minha querida redentora, Minha nova redentora, tu sim, sofreste; tu continuaste e continuas a Minha obra de salvação. Eu revestido de ti, contigo sofri, mas, sozinho, não. Não posso mais, estou cansado de sustentar o braço do Meu Pai! O mundo com os seus crimes está a acender o fogo, que o vai queimar. Não é fogo do Céu, mas sim da terra; por ele preparado, a reduzir a cinzas. Mas pode tomá-lo, deve tomá-lo como punição de Deus, como castigo divino. Esta guerra, esta revolta, Minha filha, não é do Céu mas sim da terra; é a guerra do pecado, é revolta contra Deus.
Senti como se se abrisse o Céu e travasse luta com a terra. Que guerra, que pavor!
― Meu Jesus, que quereis que eu faça; o que posso eu fazer? Não quero a Vossa dor, mas quero a salvação das almas. O que quereis, meu Jesus? O que quereis, meu Amor? Dizei-me o que quereis que eu faça.
― Eu queria, Minha filha, mas não para ficar oculto: depressa, depressa a revelá-lo ao Santo Padre. Eu sei que da primeira parte, que te vou dizer, nada consigo; é só para mostrar os Meus divinos desejos e o Meu amor às almas. Não são tantos os crimes e tanta a malícia do pecado, que só havendo 10 vítimas em cada nação, o mundo pode ser salvo. Mas vítimas puras; cheias de generosidade e amor. Mas não, não as encontro; não há quem aceite os Meus espinhos, não há quem queira as Minhas chagas, a Minha cruz, o Meu Calvário; não há quem se entregue a Mim pelas almas. Há muitas que querem sofrer e serem imoladas, enquanto que não chegam os sofrimentos e a hora da imolação. Mas ah! O que Eu espero é a segunda parte. Pede ao Santo Padre que lho pede Jesus; que apele para os sacerdotes, sobretudo das ordens religiosas, que, apesar de neles haver muita coisa, há muitos, que Me dão; que redobram de pureza, de fervor e de amor ao Santo Sacrifício da Missa.
Com essa pureza, fervor e amor, unido à Minha vítima, a quem fiz a entrega da humanidade, a quem dei a mais sublime missão, ela pode ser salva, salvar as suas almas. E não é essa, esposa querida, a tua ansiedade, o fim de todo o teu sofrimento?
― Sim, meu Jesus, eu quero salvar as almas, e por isso não me poupeis o meu corpo; eu não Vos recuso nenhum sofrimento, mas se pudesse ser tudo! Se eu pudesse consolar-Vos e amar-Vos, evitar todo o pecado, salvar todas as almas e poupar-lhes, aos corpos, os castigos! Perdoai-nos, perdoai-nos, meu Jesus; sou a Vossa vítima, tende de nós todos compaixão. Que dor no meu coração, que desolação a minha! Seja tudo por Vós, meu Jesus.
― Coragem, Minha filha! Essa dor é para nela ficares; não tenho vítimas generosas. Supre tu toda a generosidade. Confia, confia; a tua dor de alma e corpo é bálsamo de salvação. Para resistires à dor, para viveres e sempre em tuas veias correr o Sangue de Cristo, vou dar-te a gota do Meu Sangue divino. É o Coração do Esposo unido ao da esposa, e do Redentor à Sua redentora.
Jesus uniu os nossos Corações, pelo cimo do Dele deixou cair no meu a gotinha do Seu divino Sangue, e espalhou, ao mesmo tempo, sobre o meu peito uma labareda de fogo que dele saía.
― Vai, esposa amada; vai, leva esta vida e este amor. És o cofre das almas, a depositária de todas as maravilhas do Senhor. Vai em paz; quero em teus lábios sempre o sorriso, em todo o teu sofrer a tranquilidade e a alegria. Coragem! Jesus não te falta.
― Obrigada, obrigada, meu Jesus. Conto Convosco, confio em Vós. Fiquei logo mergulhada em dor; sinto-me num mar de amargura, sinto-me num nunca acabar de trevas. Eu te quero, minha amada cruz.
(Alexandrina Maria da Costa: “Sentimentos da alma”, 2 de Maio de 1947 - Sexta-feira)
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