Vais Receber-Me pelas mãos do Anjo da tua guarda
Passou-se algum tempo num silêncio mortal; Jesus despertou e fez que eu despertasse.
― Minha filha, Minha filha, eu não morri; vem a Mim, vem para o Meu amor, vem para o Meu fogo divino; ele é para ti a vida, é o cadinho, o fogo que te purifica, que dá a pureza, a graça, todo o brilho à tua alma. Mergulha-te nele, namora-te de Mim, enche-te, para poderes encher as almas. Descansa neste fogo, suaviza nele a tua dor, retoma as forças perdidas em tão doloroso martírio.
Jesus calou-se e eu fiquei por um espaço de tempo a arder naquelas chamas; senti-as, vi-as; eu era a caldeira, Jesus o fogo. Conservei-me em silêncio também; não sabia falar a Jesus. Não sentia as dores do corpo e a alma naquelas chamas tornou-se mais forte. Continuou Jesus:
― Minha filha, Minha esposa querida, vais agora receber-Me pelas mãos do Anjo da tua guarda. Vem, ao Seu lado, S. Miguel Arcanjo e o Anjo S. Gabriel; atrás deles seguem-nos uma multidão deles. Prepara-te; descem do Céu.
Só disse: Senhor, eu não sou digna, etc. Vinham os três Anjos, como me disse Jesus, e pararam à minha frente. O do meio com a Sagrada Hóstia nas mãos; os dos lados alumiavam e cobriam o do meio, o que trazia Jesus, com uma umbela rica. A multidão deles não cantavam, mas de mãos levantadas, cabeças inclinadas, num profundo recolhimento, dizia: glória, glória ao nosso Deus, ao nosso Rei, ao nosso Amor. A Ti glória, a Ti glória, ó Jesus, nosso Deus e Senhor. Isto era em tom de quem reza e não de quem canta. Inclinou-se para mim o Anjo; eu estendi-lhe a língua e Ele ao dar-me Jesus não principiou pelas palavras do costume, mas sim: “Viaticum Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam”.
Desapareceram com a mesma reverência, no mesmo silêncio com que tinham aparecido em volta de mim. E toda a multidão de Anjos batia as suas asinhas brancas e pronunciavam as mesmas palavras. Vi-os seguir, tudo era luz.
Fiquei mergulhada em amor, numa intimidade com Jesus; parecia-me inseparável Dele.
― Minha filha, dei-Me a ti em alimento, sou a tua vida. Dei-Me deste forma, para mais e melhor mostrar as minhas maravilhas e para mostrar que estou contente com os Meus representantes na terra, com a doutrina da Minha Igreja. Não podia deixar-te sem o Meu alimento, depois de tantas forças consumidas, de tanto sofreres! Prometi não deixar-te sem a Minha Eucaristia, às sextas-feiras, e não faltei. Recebeste-Me como viático e é verdade que és enferma e sem um milagre divino não terias resistido à dor, eras moribunda. Coragem, Minha filha, Eu continuo a pedir-te sofrimento porque O Meu Eterno Pai continua a exigir grande reparação das Minhas vítimas para a salvação do mundo, para que os pecadores se convertam e venham a Mim. O Meu Divino Coração suspira, anseia por eles; vejo-os a fugirem-Me, a perderem-se, acode-lhes, são meus e teus. És a minha esposa mais querida, a maior vítima que tenho na terra, és a continuadora da Minha paixão, da obra da redenção. É revestida de Mim que continuas a salvar almas, a resgatá-las do pecado e a arrancá-las das garras de Satanás. Vai com o Meu divino amor, com a Minha graça salvá-las. Vai dizer tudo; leva a luz do Divino Espírito Santo. Coragem, coragem, e amor; vai para a cruz, que só deixarás, no momento da morte, quando voares ao Céu.
― Muito obrigada, meu Jesus! Permiti que eu vá firme no Vosso amor divino; conto com a Vossa graça. Aceitai desde já, o meu sacrifício. A minha alma já está a cair em grande amargura. Venha o que vier, eu amo-Vos; sou a Vossa vítima. São passadas três horas em que fui mergulhada no amor de Jesus; o coração ainda me queima, o peito está em brasas. A alma está triturada de dor; tudo em mim é cegueira, tudo são trevas na terra e no Céu. Seja sempre bendito o Senhor.
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 4 de Abril de 1947 - Sexta-feira Santa)
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