Sinto o meu corpo golpeado e desfeito pelo sofrimento e o coração cheio de punhais a cortarem-me dia e noite, não podendo ele deixar de sangrar, um só momento. Ó meu Deus, ó meu Jesus, como eu me sinto ferida! Seja tudo por Vosso amor; eu sou, ó Jesus, e quero ser sempre a Vossa vítima. Não posso esquecer as almas, os pobres pecadores. Que pena eu tenho deles! Tenho a certeza de que, se me esquecia destes pobres infelizes, desgostava o meu Jesus. Quero sofrer, quero sofrer para O amar, para O consolar e dar todas as almas. Não sei dizer o que quero: queria a todos no Céu, queria toda a humanidade, a arder de amor, dentro do coração divino de Jesus. Que sede insuportável de O ver amado! As minhas trevas, a cegueira do meu espírito, já vão além da cegueira. Ó meu Deus, não sei exprimir-me. Acima e abaixo de mim são trevas; atrás e à frente de mim, trevas são. Mas essa cegueira da minha frente, essa negra escuridão, pela qual tenho de passar, nunca teve luz, nunca foi nem será luz. É o que sente a minha alma. Que pavor! O que tenho de atravessar! Por vezes é tal o tormento, que a alma não transformar-se, desfalece. Mas a este desfalecimento, vem de encontro a dor de Jesus. Descem do alto direitos ao meu peito, a penetrarem no coração, raios de fogo, raios de amor. E então eu vivo, e com mais coragem e força abraço o crucifixo, abraço a dor e a cruz, e sem temor digo a Jesus; sou a Vossa vítima. No meio de agudíssimas dores, Jesus tem passado, à minha frente, vagarosamente, com um grande madeiro aos Seus Santíssimos Ombros. A visão da cruz, e ao vê-Lo assim desfigurado, comove-me, leva-me à compaixão, leva-me à sede de mais dar a Jesus, de mais e mais sofrer por Ele. Nas horas em que mais sofri, apareceu-me, duma vez, Jesus, em tamanho natural, cheio de luz, resplandecente de glória, e, noutra hora, a Mãezinha com o Menino Jesus ao colo, todo sorridente para mim, a estender-me os Seus bracinhos, como quem queria abraçar-me. Ao Seu lado uma cruz Formosíssima, luminosa, cheia de coroas de rosas. Que beleza! Aquela cruz, com Jesus e a Mãezinha, já era o Céu. Compreendi e senti na alma que era a cruz do Seu martírio, transformada na cruz celeste. Era minha; e o fim será no Céu. Foi o que eu senti. Esta visão fortaleceu a minha alma; por algum tempo era outra. Quando me sinto mais desfalecida, por vezes, sinto essa cruz gravada dentro de mim; logo retomo forças para resistir à dor. Jesus serve-se de tantos meios para ajudar a mais pobre e miserável das Suas filhinhas! Bendito, bendito Ele seja! Que pena eu tenho de não corresponder ao Seu amor infinito!
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 11 de Abril de 1947 - Sexta-feira)
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