Eu nada posso sem Vós!
Ao cair da tarde de ontem, senti como se no meu coração estivesse gravado Jesus e a Mãezinha, numa tristeza e amargura tão profunda, que causava dó. Jesus beijou e aquele beijo foi de despedida; e deixou no Coração da Mãezinha raios de fogo; foram fios, foram prisões de amor que os deixaram para sempre unidos. Jesus foi para o Horto e ficou com a Mãezinha. A Mãezinha ficou e foi com Jesus. Eu no Horto senti como se em meu corpo nem uma só veia ficasse por abrir. Os Apóstolos dormiam; Judas aproximava-se. À voz de Jesus vieram sobressaltados. Judas deu o seu beijo traidor e todos caíram por terra; a terra foi o meu coração. Feriram-me as armas e os paus. Vi Jesus que em Suas Santíssimas mãos tomou. Ao ver isto, fugiu S. Pedro por entre a multidão; foi à frente de Jesus; não viu os maus-tratos que Lhe deram. Mas via a Mãezinha; velava ao longe. Eu sentia que o Seu Santíssimo Coração adivinhava tudo. Quanto Ela sofria e quanto sofria eu também com os sofrimentos de Jesus e os dela! Na manhã de hoje, caminhei oprimida pela violência da dor; ia como que encerrada num mundo do sofrimentos. Caminhei sem luz, mas cheguei ao Calvário e lá com mais sensibilidade fui cravada na cruz; e então em todo o meu corpo estava Jesus; eu era apenas uma casca frágil que O encobria. Sentia todas as Suas chagas e feridas, os espinhos da Sua Sacrossanta Cabeça, o palpitar do Coração, lágrimas e gotas de sangue, tudo em mim era Jesus. Quando estava a ser cravada na cruz, ainda senti o meu rosto a ser nojosamente escarrado. A frágil casca do meu corpo não impedia os sofrimentos e maus-tratos de Jesus. Fiquei no mesmo brado e agonia com Ele. Quando Jesus expirou, eu senti que o espírito divino voou de verdade ao Pai, e eu fiquei morta. Pouco depois Ele voltou e disse-me:
― Minha filha, o Jardineiro da tua alma está em teu coração; cuido, cultivo as flores que adornam a minha alma. Como são belas! A água que as rega é a água da pureza, água de graça e amor. Confia; o teu Jardineiro é Jesus; habito em teu coração; repara como eu cuido delas. Tu és a pastorinha de Jesus, a pastorinha das almas; apascenta-las no jardim formoso da tua alma. Vi então Jesus feito Jardineiro, no seio de belas flores, de regador na mão a regá-las cuidadosamente; via cair a água com abundância.
― Cuidai, cuidai, meu Jesus, cuidai delas e cuidai de mim; eu sou miséria e nada posso sem vós. Permiti que com a Vossa graça, no jardim do Vosso divino amor, eu posso mergulhar em almas; sustentai-as com o que é Vosso.
― Coragem, coragem, Minha filha; sem dor não há vítima, sem dor não há amor, sem dor não há vida. Tu és a vida de Jesus, és a vida das almas. Se todas as vítimas sofrem, como não hás-de sofrer tu, Minha filha, que és a maior vítima da humanidade. Dá-Me dor, acode ao mundo, vem sobre ele a justiça de Meu Pai e vem depressa. Não há justos na terra, não há almas que Me amem, a ponto de repararem todas e tão graves ofensas.
(Beata Alexandrina Maria da Costa: Sentimentos da alma, 18 de Abril de 1947 - Sexta-feira)
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